O Rio Grande do Sul atravessa uma das quadras mais dramáticas de sua história. Um mês depois do início da chuva que produziu a maior tragédia climática do Estado, nem sequer se conhece o custo financeiro aproximado para o reerguimento, tamanha foi a destruição. A reconstrução será uma tarefa de proporções inéditas no país. Levará anos e consumirá dezenas de bilhões de reais. É o momento de as lideranças políticas, em cargos de gestão ou situadas à oposição, mostrarem-se à altura do desafio que está diante dos gaúchos.
Candidatos e siglas devem deixar a campanha para o momento conveniente, a partir de agosto
É completamente inadequado, nesta passagem sem precedentes, deixar que interesses eleitorais se sobreponham à união que deveria existir entre todos os entes federados, governados por homens e mulheres de diferentes matizes ideológicos. São dias que exigem a soma de esforços em nome da recuperação do Rio Grande do Sul e de suas cidades e populações. Não é hora de oportunismo e de politização da catástrofe.
O Brasil terá eleições para prefeituras e Câmaras de Vereadores em outubro. No Estado, notadamente nos municípios mais afetados pelas enchentes, os possíveis candidatos e as siglas devem deixar a campanha para o momento conveniente, a partir de agosto, conforme o calendário legal. Até lá, a grande responsabilidade de próceres políticos, agentes públicos e daqueles que ambicionam cargos é colaborar para que suas comunidades consigam se restabelecer.
Foi inoportuno, por exemplo, o manifesto com críticas à gestão do prefeito da Capital, Sebastião Melo, divulgado na última segunda-feira por cinco ex-mandatários da cidade. Não se trata, aqui, de analisar o mérito dos pontos abordados na declaração. Mas, sim, de observar o tempo. O Estado, a Capital e outras cidades ainda estão em fase de emergência e a prioridade deveria ser direcionar as energias para o amparo às pessoas afetadas, a restauração da infraestrutura e a reconstrução econômica. Chegará a hora de escrutinar também sob o viés político a conduta, as ações e omissões dos gestores de diferentes municípios e caberá ao eleitor tomar a decisão sobre os próximos quatro anos. Mas não é agora. Críticas e reparos a qualquer administração podem ser feitos. O caráter eleitoreiro é que deve ser questionado.
A politização, neste momento, é contraproducente em qualquer hipótese. Mesmo quando não envolve eleições no horizonte imediato. Dessa forma, aguarda-se postura colaborativa de prefeituras, governo do Estado e União para que os gaúchos recobrem as forças o mais rápido possível.
Em muitas frentes, há responsabilidades dos três entes. Assim, devem se ajudar mutuamente, e não rivalizar. Um dos temas que requer unidade é o esforço para recolocar o aeroporto Salgado Filho em operação. É salutar que haja postura pública institucional sóbria, evitando atritos. Mas não basta. É um espírito que deve ser observado também nos bastidores, na prática, com atitudes colaborativas e complementares.
Espera-se o mesmo comportamento de parlamentares das três esferas. Ajudem, ao invés de priorizar posts para redes sociais criticando e atacando adversários, produzidos apenas com intuito de fomentar a divisão, quando o momento pede o oposto.
A luta pelo poder é natural. Mas um rápido exame de consciência deve mostrar que a ocasião impõe cooperação. Caso contrário, são maiores os riscos de se governar sobre escombros.