A recuperação do aeroporto Salgado Filho está entre as principais premissas para o retorno pleno da atividade econômica no Rio Grande do Sul. Com a pista e o terminal tomados pela água que invadiu a zona norte da Capital, permanece incerto o prazo para a volta das operações. Vai depender da extensão dos estragos, uma avaliação ainda pendente.
A mais recente informação é a de que a Agência Nacional de Aviação (Anac) comunicou ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Aeronáutica que os voos estão suspensos ao menos até 7 de agosto. Mas existem diferentes projeções. Tanto de que poderia ser um retorno rápido, assim que o alagamento deixar de existir, quanto de que poderia ser mais demorado e incerto, em caso de danos estruturais na pista.
É preciso contar com que o poder público e a concessionária Fraport farão todos os esforços para abreviar o período de inatividade
É preciso contar com que o poder público e a concessionária Fraport farão todos os esforços sob suas respectivas responsabilidades para abreviar o período de inatividade. Considerando-se as expectativas atuais, seria plausível traçar um cenário em que empresas e negócios afetados pela enchente já estariam em condições de voltar ao patamar de atividade anterior à enchente, enquanto o Salgado Filho permaneceria sem pousos e decolagens. Isso agravaria os prejuízos de segmentos de significativo peso na economia, como turismo de lazer, viagens corporativas, eventos e cultura, entre outros serviços. Ademais, o aeroporto não movimenta apenas passageiros, mas também cargas. São mercadorias que chegam a Porto Alegre de outras partes do país e do Exterior, assim como também são embarcadas. Em regra, são itens de maior valor agregado e, sem a opção aérea, os custos logísticos são maiores.
Até ser forçado a parar as operações, o Salgado Filho recebia, em média, 165 voos comerciais por dia, de acordo com a Fraport, citada em reportagens. Conforme o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, com o uso de outros terminais no Interior, seria possível ter emergencialmente no Estado, a partir desta segunda-feira, 134 voos semanais – provavelmente também em aeronaves com menor capacidade. Assim, em uma semana os gaúchos seriam atendidos por uma oferta aérea inferior ao movimento diário no Salgado Filho. Apenas esse dado comprova a importância de uma recuperação breve do aeroporto da Capital, onde em março circularam mais de 580 mil usuários, entre chegadas e partidas.
Como não há certeza de quando o Salgado Filho poderá reabrir, espera-se que as demais opções sejam dotadas de melhor estrutura para compensar parte da malha perdida. Não apenas a Base Aérea de Canoas, mas os aeroportos do Interior, concedidos ou administrados pelo poder público, já bastante utilizados para ajuda humanitária. São os casos dos terminais de cidades como Caxias do Sul, Passo Fundo, Santo Ângelo e Pelotas, entre outros. Qualificar as estruturas espalhadas pelo Estado também significará, no futuro, um trunfo para a aviação regional, com melhores condições de interiorização da malha. Por linhas tortas, trata-se de uma oportunidade, portanto.
Em relação ao Salgado Filho, outra consequência inevitável será a rediscussão entre o governo federal e a Fraport dos termos da concessão, para buscar o reequilíbrio econômico-financeiro do negócio. É algo previsto em contratos do gênero. Entre as opções está o aumento do tempo de exploração do terminal. Aguarda-se uma negociação que flua sem necessidade de judicialização e com o menor impacto possível para os usuários. Antes, porém, toda a energia deve ser canalizada para remover a água que toma o Salgado Filho e, em seguida, avaliar danos e tomar as providências para torná-lo outra vez operacional.