A velocidade da recuperação do Rio Grande do Sul está atrelada ao ritmo de reabilitação da indústria. Os esforços que ocorrem da porta para dentro das fábricas precisam ser correspondidos com iniciativas que deem suporte à sobrevivência das empresas neste período mais crítico e permitam a normalização das atividades o mais breve possível. A confirmação dessa sincronia fará o Estado ver a incerteza ceder espaço ao otimismo antes do que se imaginava, com reflexos positivos nos demais elos da economia.
É vital recuperar estradas e reconstruir pontes de forma célere e segura para regularizar a produção e a circulação de bens e matérias-primas
As indústrias foram afetadas de distintas formas pela enchente histórica. Parte ainda contabiliza os prejuízos com a perda de estoques e a destruição de instalações e maquinário. Outras terão de aguardar para repor o que foi arrasado e buscar crédito para voltar a operar. Existem ainda as afetadas indiretamente por danos na infraestrutura, o que impede ou dificulta a remessa de mercadorias e o recebimento de insumos.
É vital recuperar estradas e reconstruir pontes de forma célere e segura para regularizar a produção e a circulação de bens e matérias-primas. A localização do Estado, no extremo sul do país, torna a logística um aspecto nevrálgico para a competitividade da indústria local. A retomada das operações do aeroporto Salgado Filho antes de dezembro, prazo estipulado pela concessionária Fraport, é outro objetivo estratégico a ser perseguido de forma incansável.
Mas há outros pontos merecedores de grande atenção. Um dos principais está relacionado ao emprego. É interesse das companhias não demitir e manter o capital humano qualificado que têm.
Desta forma, ainda será preciso que o governo federal seja sensível e admita reabrir negociações com os empregadores para aperfeiçoar o programa lançado na semana passada para a manutenção de postos de trabalho. O governo pagará um salário mínimo por dois meses por trabalhador mantido. O prazo deveria ser dilatado. Daria mais segurança às companhias. O benefício precisaria ainda abranger empresas que não foram alagadas, mas acabaram afetadas pela tragédia climática, como as que não conseguem produzir ou vender normalmente por acessos rodoviários interrompidos. Essas também estão sem faturar, enquanto os compromissos, como a folha de pagamento, batem à porta.
De outro lado, a magnitude do desafio de dar novo fôlego aos empreendedores torna imperioso que o crédito prometido em condições excepcionais pelos governos estadual e federal, por meio de suas instituições financeiras controladas, chegue sem entraves aos tomadores. Ademais, devem seguir tratativas para novas medidas de fôlego tributário.
A indústria tem um grande potencial de acelerar o reerguimento da economia do RS por seus efeitos multiplicadores. Necessita de outros bens para produzir, gerando demanda na agropecuária e em outras fábricas. Também contrata uma variada gama de serviços. Na média, é o segmento que melhor remunera, devido à maior qualificação da mão de obra, o que beneficia o comércio.
Levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul divulgado ontem mostra que os 95 municípios gaúchos em situação de calamidade concentram mais da metade da atividade fabril gaúcha. Neles estão 59% do valor adicionado bruto (VAB) da indústria, 55% dos empregos e da massa salarial e 57% da arrecadação de ICMS do segmento. São números que demonstram o alto impacto da tragédia climática e, por conseguinte, a importância de o setor ter um apoio condizente com a sua relevância.