Os sucessivos e frequentes desastres ambientais que provocaram destruição e mortes em cidades gaúchas – três enchentes em 2023 e uma maior agora – são indicativos claros de que as mudanças climáticas prenunciadas pelos ambientalistas chegaram para ficar no Brasil. A catástrofe no Rio Grande do Sul foi acompanhada por uma forte e continuada onda de calor em Estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, o que também ocorre pela quarta vez neste ano.
Considerando-se essa realidade, já não basta que o governo federal continue atuando apenas no socorro às unidades federativas atingidas por intempéries, ainda que a ajuda continue sendo imprescindível. O poder central precisa cada vez mais participar do planejamento preventivo, centralizando operações e compartilhando decisões que hoje ficam a cargo apenas dos Estados e municípios, tais como urbanização, proteção ambiental, construção de infraestrutura nas cidades e dotações orçamentárias para o enfrentamento de catástrofes decorrentes de mudanças climáticas.
O poder central precisa cada vez mais participar do planejamento preventivo, centralizando operações e compartilhando decisões que hoje ficam a cargo apenas dos Estados e municípios
Para tanto, é impositivo que um organismo central de planejamento ambiental tenha poder, seja reconhecido por todos e funcione. Não é, infelizmente, o que ocorre hoje com o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima, principal órgão da governança climática brasileira, que reúne 17 ministérios sob o comando da ministra Marina Silva, mas que até hoje, desde seu relançamento em setembro de 2023, realizou apenas uma reunião e pouco contribuiu para a prevenção nas regiões mais vulneráveis.
O momento é apropriado para o governo do presidente Lula, que tanto criticou o negacionismo de seu antecessor, desengavetar o projeto de criação de uma autoridade nacional de segurança climática, como chegou a anunciar o Ministério do Meio Ambiente por ocasião da retomada do Comitê. Mas a população espera medidas práticas, e não apenas mais órgãos públicos de nomes sofisticados para engrossar a burocracia estatal.
Pesquisa realizada pelo instituto mineiro Quaest sobre a tragédia ambiental no Rio Grande do Sul indica que o negacionismo climático perde força no Brasil. Pela amostragem das 2.045 pessoas consultadas em 120 municípios do país, entre os dias 2 e 6 de maio, percebe-se que uma maioria significativa de 64% relaciona a enchente às mudanças climáticas do planeta, outros 35% consideram que tem alguma ligação e apenas 1% acredita que não tem ligação nenhuma.
Evidentemente, se esses percentuais forem aplicados à totalidade da população do país, ainda parecerá elevado o número de brasileiros que rejeitam explicações científicas para os desarranjos ambientais, preferindo atribuir os desastres ao acaso ou a causas sobrenaturais. Mas uma parcela cada vez mais expressiva de cidadãos demonstra estar consciente de que o descaso humano com a preservação do planeta é o motivo maior do desequilíbrio ambiental. E as pesquisas também mostram que esse contingente de brasileiros bem informados está cobrando mais responsabilidade dos seus representantes políticos.