O Rio Grande do Sul ainda não superou o ponto de virada da tragédia climática que destruiu cidades inteiras, provocou mortes e desabrigou milhares de pessoas. Embora o sol tenha retornado temporariamente na última segunda-feira, o alagamento continua e as previsões meteorológicas dos próximos dias indicam novos motivos para preocupação. Nesse contexto caótico e desanimador, dois aspectos alentadores merecem ser evidenciados: a mobilização solidária de brasileiros de todos os quadrantes do país para ajudar o Estado e a bravura do povo gaúcho na resistência e no enfrentamento das dificuldades.
Cada integrante deste grande exército de salvação merece o reconhecimento e a gratidão dos rio-grandenses, seja ele um anônimo voluntário ou uma autoridade constituída. Mas o êxito deste gigantesco esquema de socorro e acolhimento das vítimas, etapas obrigatórias e prioritárias antes de ser deflagrada a tarefa da reconstrução, depende muito dos governantes e das lideranças políticas que comandam as operações. Cabe a eles decidir sob pressão, atender às demandas da população e também submeter-se ao julgamento diário de pessoas compreensivelmente inconformadas e até revoltadas com a crise que alterou suas rotinas de vida.
O desastre climático está pondo à prova a capacidade gerencial de nossas lideranças políticas – e a maioria, felizmente, vem correspondendo às expectativas de suas comunidades
Expostos à maior visibilidade entre as autoridades diretamente envolvidas na grande operação, o governador Eduardo Leite e o prefeito da Capital, Sebastião Melo, vêm demonstrando assertividade e transparência nas suas ações. O chefe do Executivo estadual destaca-se pela clareza na comunicação com a população, pela firmeza nas negociações com o governo federal e pela rapidez na tomada de decisões. O prefeito porto-alegrense também vem demonstrando incansável disposição para percorrer os pontos críticos da inundação e para enfrentar com coragem até mesmo situações embaraçosas que independem de suas decisões, como o recente alagamento dos bairros Menino Deus e Cidade Baixa, causado pelo inesperado, mas necessário, desligamento de uma das casas de bombas que expulsam os conteúdos dos esgotos pluviais e cloacais da Capital.
Ao nominar os dois governantes mais expostos ao exame dos governados devido à abrangência de seus cargos, estendemos este reconhecimento a outros administradores públicos que também estão enfrentando com esforço e discernimento as vicissitudes do momento trágico em seus respectivos municípios. O desastre climático está pondo à prova a capacidade gerencial de nossas lideranças políticas – e a maioria, felizmente, vem correspondendo às expectativas de suas comunidades.
Evidentemente, nossos representantes na administração pública não estão – e nem devem estar – isentos de cobranças e críticas. Porém, até mesmo como contraponto ao implacável tribunal das redes sociais, que não hesita em condenar sem provas e em usar a maledicência como argumento, consideramos importante fazer este registro focado muito mais nas ações do que propriamente nas pessoas.