Embora o Estado continue em situação de emergência, sem uma avaliação conclusiva da profundidade da tragédia, já é necessário planejar a reconstrução. Nesse contexto, foi de grande relevância a presença ontem em Porto Alegre da comitiva liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrada pelos chefes dos demais poderes e ministros do governo, além de representantes do Ministério Público, do Tribunal de Contas e das Forças Armadas. Num raro momento de união nacional e apartidarismo, as principais autoridades da República comprometeram-se publicamente em liberar recursos e remover entraves burocráticos para socorrer a população gaúcha e ajudar o Estado a superar com o máximo de celeridade as dificuldades impostas pelo pior desastre climático de sua história.
“O Brasil deve muito ao Rio Grande do Sul. Agora está devolvendo o que ele merece” – assegurou o primeiro mandatário da nação ao final de sua manifestação, dirigindo-se diretamente ao governador Eduardo Leite. A mobilização de autoridades formalizou a imediata execução de um plano de reconstrução do Estado.
Alguns oradores chegaram a mencionar como modelo o Plano Marshall, programa lançado pelos norte-americanos para a reconstrução da Europa depois da Segunda Guerra Mundial. É um bom exemplo. Porém, para ser igualmente bem-sucedido, o programa de recuperação do Rio Grande deve ter uma gestão profissional de excelência, compatível com o tamanho do desafio.
Num raro momento de união nacional e apartidarismo, as principais autoridades da República comprometeram-se publicamente em liberar recursos e remover entraves burocráticos para socorrer a população gaúcha e ajudar o Estado
Ainda que o plano esteja atrelado ao governo federal, ao Congresso Nacional e ao Judiciário, cabe ao governador Eduardo Leite assumir a liderança dos trabalhos e mobilizar todos os setores da sociedade gaúcha para que também participem ativamente da reconstrução.
A tarefa é desafiadora. Evidentemente que a atenção maior do governo deve ser dispensada à preservação de vidas e à saúde das pessoas, mas aspectos aparentemente materiais também são importantes para que as vítimas do desastre retomem suas rotinas. As estradas precisam ser recuperadas para que não haja desabastecimento e para que os viajantes cheguem a seus destinos. Os hospitais e postos de saúde precisam funcionar para que os doentes sejam atendidos. As escolas precisam ser recuperadas para que as crianças e jovens tenham futuro. As empresas e estabelecimentos comerciais precisam movimentar a economia e manter empregos.
Compreende-se a preocupação pelo bom uso dos recursos públicos. Mas este plano emergencial, a exemplo do que foi lançado para combater os efeitos da pandemia da covid-19, exige flexibilização da legislação, boa vontade do Legislativo, compreensão dos órgãos fiscalizadores e atenção do Judiciário para que a burocracia legal não obstaculize nem retarde o trabalho. Nesse sentido, merece reconhecimento a disposição manifestada ontem por todos os chefes de poderes e que já começou a ser transformada em medida prática pelos ministros que acompanharam o presidente Lula na viagem a Porto Alegre.
A capital gaúcha recebeu esse alento no dia em que foi mais prejudicada pela enchente, com o extravasamento de um dique na Zona Norte, a expansão do alagamento em vários bairros e a extensão dos danos a locais até então resguardados, como o parque gráfico do Grupo RBS, nas proximidades do Aeroporto Salgado Filho, o que impôs restrições à entrega das edições impressas dos jornais Zero Hora, Diário Gaúcho e Pioneiro. Em decorrência disso, para atender a seus leitores, o Grupo RBS está disponibilizando o acesso gratuito à edição digital dos três jornais com a curadoria de seus profissionais das informações sobre a inundação.