Na segunda visita ao Rio Grande do Sul para olhar a inundação de perto, o presidente Lula mostrou que compreende a dimensão da tragédia que atinge o Estado e reafirmou o compromisso de liberar os recursos necessários para a reconstrução. Antes de sua manifestação, o governador Eduardo Leite fez uma síntese dos problemas, alertou que o número oficial de mortos e desaparecidos é impreciso, porque ainda há lugares totalmente isolados, resumiu as medidas adotadas até agora para salvar vidas, em conjunto com as Forças Armadas, e passou slides com fotos da enchente em dezenas de cidades.
—Aprendi com a minha mãe que o que os olhos não veem o coração não sente. Estou assustado com tanta água — começou Lula.
O presidente explicou por que convidou os presidentes da Câmara, do Senado, do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal de Contas da União para a viagem: porque as ações têm de ser coordenadas e envolver todos os poderes da República. Depois citou cada um dos ministros e o papel que terão no processo de atenção ao Estado, justificando a presença na comitiva.
Além da promessa genérica de ajuda em tudo o que o RS precisar, Lula se comprometeu também com a recuperação das rodovias estaduais:
— Sei que o Rio Grande do Sul tem muitas estradas estaduais danificadas. Não fique preocupado, governador. O governo federal vai ajudar você a recuperar as estradas estaduais.
Em uma espécie de ato de contrição por não ter vindo ao Estado na enchente de setembro, Lula fez uma declaração de amor ao Rio Grande do Sul, lembrando o valor do Estado na cultura, na música, no folclore e na produção agrícola:
— Queria dizer ao povo gaúcho, olhando para você, governador, que o Brasil deve muito ao Rio Grande do Sul. Vocês desbravaram este país. O Delfim Neto (ex-ministro) dizia que para a agricultura no Brasil dar certo era preciso trazer os japoneses pra cá. Delfim não conhecia os gaúchos. Vocês fizeram uma revolução agrícola junto com a Embrapa. Como a gente deve muito ao Rio Grande do Sul, estamos dando ao Estado aquilo que ele merece. Está na hora de o Brasil ajudar o Rio Grande. Não haverá impedimento da burocracia para que a gente recupere o Rio Grande do Sul.
A necessidade de driblar a burocracia foi apontada por Leite e pelo prefeito Sebastiao Melo. Leite disse que não adianta Lula mandar R$ 10 bilhões, R$ 20 bilhões ou R$ 100 bilhões, se não mudar a legislação que rege as questões fiscais, porque ele ficaria impedido de gastar. Pediu aos presidentes da Câmara e do Senado alterações emergenciais na lei para acelerar as licitações e a liberação de recursos na reconstrução.
Aliás
O clima de cooperação que se estabeleceu na cúpula dos governos estadual e federal precisa chegar aos militantes que “administram” pelas redes sociais. A crise é de tal proporção que não deveria haver espaço para esse ranço ideológico que desqualifica as relações políticas.
Atenção às pessoas e aos animais
Quando o presidente Lula apresentou sua comitiva no Rio Grande do Sul é que veio a explicação para a ausência da primeira-dama Janja da Silva, que desembarcou com ele.
Janja optou por visitar o abrigo do Sindicato dos Metalúrgicos, em Canoas, onde conversou com atingidos pela enchente e conheceu o projeto 101 Vira-Latas, que, junto da Secretaria de Assistência Social, resgata animais vítimas da tragédia.
Janja entregou uma tonelada de ração, doada pela Petz.
Faz-tudo
O ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação, foi o mestre de cerimônias na visita do presidente Lula a Porto Alegre.
Desde o início do governo, Pimenta é uma espécie de “mil e uma utilidades” na relação do presidente com o Rio Grande do Sul.