As previsões meteorológicas para os próximos dias são verdadeiramente alarmantes e precisam ser consideradas por todos os gaúchos. O Rio Grande do Sul está vivendo um momento tormentoso de sua existência: inundações sem precedentes, um número crescente de mortes, populações inteiras desabrigadas, cidades alagadas, estradas interrompidas, pontes destruídas, solo encharcado e deslizamentos de encostas, uma verdadeira calamidade pública de proporções inimagináveis. Nesse contexto quase apocalíptico, nada pode ser mais importante do que a preservação de vidas.
Por isso, é também um momento de desarmamento de espíritos. Não contribui em nada, neste momento de aflição, ficar procurando culpados, como já se percebe em algumas manifestações inconformadas, especialmente nas redes sociais. Estamos todos no mesmo barco, lutando contra uma armadilha da natureza. Todos sabemos que o ser humano é, em grande parte, responsável pelo desequilíbrio climático, como já comprovaram fartamente estudos científicos sérios. O mundo está consciente disso. Governantes de todos os continentes vêm se reunindo periodicamente em conferências sobre o clima com o propósito comum de buscar soluções para o aquecimento planetário, para o desmatamento e para os desequilíbrios que ameaçam a humanidade.
O Rio Grande vive uma situação de gravidade extrema e precisa de todas as mãos, todas as vontades e todas as orações para atravessar essa correnteza de infortúnios e retomar a normalidade
Também é verdade que os avanços são lentos e que tem sido difícil superar a resistência dos países poluidores e do sistema de produção predatório que ainda é predominante nas nações mais desenvolvidas. Mas esse é o desafio de sempre. Não é agora, em meio a um desastre que a cada hora assume proporções mais aterradoras, que poderemos alterar o rumo da economia ou punir eventuais responsáveis. Vamos, primeiro, lutar pela sobrevivência das populações mais vulneráveis. Nesta semana trágica, gaúchos e brasileiros precisam, antes de qualquer coisa, unir esforços para enfrentar a catástrofe que desaba sobre o Estado.
E esse enfrentamento precisa ser feito muito mais com colaboração e trabalho do que com postagens acusatórias. Basta observar os noticiários dos meios de comunicação para se constatar que as autoridades públicas, em todos os níveis, estão comprometidas com o resgate das populações atingidas. A crescente onda de solidariedade, que inclui o envolvimento direto de pessoas no socorro aos flagelados e as doações para os desabrigados, também comprova que a maioria dos gaúchos já se deu conta da real dimensão do problema.
Até em respeito às vítimas e ao heroico envolvimento de anônimos na tarefa mais difícil, é preciso deixar a indignação para depois. Primeiro, vamos salvar vidas e nos salvar. Quem puder colaborar com os outros, que pelo menos procure se preservar de riscos, evite viajar, evite sair de casa quando não houver necessidade, pelos menos até que os riscos cessem. Não se trata de conformismo, mas, sim, de racionalidade.
O Rio Grande vive uma situação de gravidade extrema e precisa de todas as mãos, todas as vontades e todas as orações para atravessar essa correnteza de infortúnios e retomar a normalidade. Aí, sim, poderemos apurar responsabilidades por erros e buscar as devidas correções.