O último domingo foi um dia de pânico na zona norte da capital gaúcha, já bastante abalada pela maior enchente de sua história e pelo desastre climático que atinge o Estado. Áreas de grande concentração urbana, os bairros Humaitá e Sarandi, que juntos reúnem mais de 100 mil habitantes, foram afetados por duas situações verdadeiramente traumáticas: a invasão efetiva da água em centenas de residências e a disseminação de um boato sobre a ruptura do dique do Arroio Feijó, que protege a região das cheias. Na verdade, a subida do nível do Lago Guaíba fez com que a água superasse a barreira de terra e provocasse alagamentos, mas não na dimensão possível em caso de rompimento. Só que a notícia falsa se espalhou pelas redes sociais e provocou correria generalizada, engarrafamentos no trânsito e até agressões entre pessoas que procuravam fugir de forma desesperada.
Não foi o único caso de desinformação a causar prejuízos para o trabalho empreendido pelas autoridades e por voluntários no socorro e no acolhimento das vítimas da tragédia. Também no fim de semana, multiplicou-se pelas plataformas digitais a notícia de que dezenas de corpos eram vistos boiando nas comunidades inundadas da cidade de Canoas – falsidade desmentida com veemência pelo prefeito do município. Circularam, ainda, mentiras sobre o rompimento do muro da Mauá, sobre invasões de saqueadores a residências alagadas e até uma maledicência de teor político, de que o governo estaria arrecadando tributos sobre as doações.
Nesse contexto em que as mentiras têm potencial para causar prejuízos irreparáveis aos cidadãos e à própria democracia, o jornalismo profissional se destaca como um eficiente antídoto para o veneno da desinformação
Nesse contexto em que as mentiras têm potencial para causar prejuízos irreparáveis aos cidadãos e à própria democracia, o jornalismo profissional se destaca como um eficiente antídoto para o veneno da desinformação. Sem a pretensão de serem donos da verdade, os veículos e profissionais de imprensa atuam com transparência (têm nome, endereço e CPF), podem ser responsabilizados legalmente por suas divulgações e dependem da própria credibilidade para sobreviver. Essas especificidades e mais o compromisso vocacional dos jornalistas com a profissão representam um diferencial na comparação com a anárquica difusão de notícias anônimas pelos meios digitais sem identificação e pelas redes sociais.
Na prática, a população gaúcha está recebendo uma oportunidade ímpar para comparar os dois sistemas de acesso à informação. Desde os primeiros dias da tragédia climática, as principais empresas de comunicação ampliaram seus espaços editoriais e escalaram seus melhores profissionais para a cobertura incessante e detalhada do evento. É pelo rádio, pela televisão, pelos jornais e pelas plataformas digitais ligadas a essas empresas reconhecidas que as autoridades vêm se manifestando e orientando a população sobre o acesso ao socorro e aos serviços públicos essenciais.
O compromisso do jornalismo é exatamente este: dar oportunidade, voz, informação correta e poder de comunicação ao cidadão, para que ele forme sua própria visão do mundo, se manifeste livremente e se capacite a fazer suas escolhas com convicção e segurança.