As medidas de ajuda econômica anunciadas ontem pelo governo federal representam alento e esperanças para a população gaúcha no seu momento de maior infortúnio, mas ainda parecem insuficientes para assegurar a reconstrução da infraestrutura do Estado. Além disso, vão depender da gestão adequada das autoridades de Brasília e da diligência dos administradores públicos locais para serem corretamente implementadas e para efetivamente chegarem à ponta com a celeridade necessária.
Ao traduzir em números o aporte financeiro prometido, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, disse que o Planalto está garantindo uma injeção de R$ 50 bilhões ao Estado, somados aos recursos destinados a ações emergenciais que já estão em curso e à revisão da dívida do Rio Grande do Sul com a União, prevista para a próxima semana. O número impressiona, mas é preciso ficar claro que esse dinheiro todo não está vindo para o Estado de uma só vez, nem a fundo perdido. Resultará, se alcançar a quantificação anunciada, de liberações de fundos existentes, concessão ou antecipação de créditos, isenções e adiamento de débitos.
A ajuda federal é bem-vinda e certamente serve para atenuar a angústia momentânea de um Estado que ainda salva vidas e chora mortes, mas a verdadeira dimensão da tragédia, em valores materiais e econômicos, só poderá ser conhecida quando as águas baixarem
Todas essas iniciativas, corroboradas na cerimônia de ontem, em Brasília, por outros ministros do governo, pelas lideranças do Legislativo e do Judiciário e pelos presidentes dos bancos públicos, representam também um desafio para o governo do Estado e para os prefeitos dos mais de 400 municípios atingidos, que precisarão documentar minuciosamente suas demandas, cobrar os repasses nos prazos prometidos e prestar contas permanentemente dos gastos e das soluções efetivadas.
Ainda que as decisões voltadas para os trabalhadores e suas famílias sejam bem-vindas e adequadas para o momento, fica em aberto no pacote governamental como será o auxílio para a reconstrução das cidades e para a recuperação das estradas e dos equipamentos públicos destruídos pela inundação. A facilitação na liberação de fundos de estruturação de projetos e a abertura de créditos por parte dos bancos oficiais, também projetadas ontem, tendem a cobrir parte mínima dos R$ 19 bilhões estimados inicialmente pelo governador Eduardo Leite para as obras indispensáveis.
Apesar dessas ressalvas, cabe reconhecer a prontidão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ajudar o Estado, assim como sua iniciativa de mobilizar seus ministros e os demais poderes para o mesmo propósito. O chefe da nação está aproveitando o exemplo da catástrofe gaúcha para chamar a atenção da comunidade internacional para a questão do desequilíbrio climático, o que também não deixa de ser positivo, ainda que seu próprio governo venha se mostrando hesitante em relação a questões ambientais.
Em resumo: a incerteza permanece. A ajuda federal é bem-vinda e certamente serve para atenuar a angústia momentânea de um Estado que ainda salva vidas e chora mortes, mas a verdadeira dimensão da tragédia, em valores materiais e econômicos, só poderá ser conhecida quando as águas baixarem.