As estatísticas confirmam o que se nota nas ruas das cidades brasileiras. Há cada vez mais motocicletas no trânsito, uma tendência impulsionada por fatores como o crescimento dos serviços de telentrega ou mesmo de mototáxi e por ser uma alternativa mais barata e ágil de deslocamento nos centros urbanos. O fenômeno, no entanto, também traz preocupações e requer atenção das autoridades. É preciso mais campanhas educativas e mesmo fiscalização para reduzir a quantidade de manobras arriscadas e proibidas e, principalmente, os acidentes, que crescem junto com o aumento da frota.
Deve-se pensar em formas de melhor educar e conscientizar sobre a condução de motocicletas de maneira responsável
De acordo com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o número de motos no país subiu de 18 milhões, em 2013, para 32 milhões no ano passado. É um crescimento significativo de 78%. A produção de motocicletas no Brasil chegou em 2023 a 1,57 milhão de unidades, o maior ritmo em uma década, conforme a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). O setor prevê nova expansão da atividade em 2024.
Convém compreender que o trabalho sobre duas rodas se tornou o meio de sobrevivência para um grande contingente de brasileiros, tendência acentuada durante a pandemia. A cadeia movimenta a economia, gera emprego e renda. Na indústria, no comércio e na rede de serviços. De outro lado, consumidores querem rapidez nas entregas em meio a um trânsito saturado. Pelos custos, ter um automóvel é inviável para boa parcela da população, e o transporte público perde qualidade. Mas as estatísticas sobre acidentes também são alarmantes.
Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado em 2022, mostrou uma alta de 53% na taxa de mortalidade de motociclistas no país entre 1990 e 2019. Segundo o Ministério da Saúde, em 2011 foram 70,5 mil pessoas hospitalizadas por acidentes envolvendo motos no país. Em 2021, o número saltou para 115,7 mil. Trata-se também de um problema de saúde pública e fonte de grande pressão sobre o SUS. Muitos casos que não são fatais acabam com sequelas duradouras, não raro lesões incapacitantes.
Ainda ontem, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) informou estar ampliando as ações educativas na Capital. No primeiro trimestre, a cidade registrou 19 mortes no trânsito. Dez tiveram o envolvimento de motos. As vítimas fatais foram nove condutores e um pedestre. No ano passado, 45% das pessoas que perderam a vida nas vias de Porto Alegre eram motociclistas. Em março, a EPTC informou ter se reunido com entidades sindicais do segmento e empresas que contratam os serviços para avaliar medidas que possam reduzir a violência no trânsito.
A expansão da frota é inexorável. Deve-se, portanto, pensar em formas de melhor educar e conscientizar para a importância da condução de motocicletas de maneira responsável e do uso de equipamentos de segurança. Antes e depois da obtenção da carteira de habilitação. As contratadoras de serviços de telentrega também podem assumir um importante papel na tarefa de evitar comportamento inadequado dos profissionais. Órgãos fiscalizadores, da mesma forma, têm de apostar em iniciativas educativas, mas não podem abrir mão das ações nas ruas voltadas também a flagrar irregularidades nas habilitações, nas documentações dos veículos e na forma de pilotar. Motocicletas podem ser um meio de ganhar a vida com menor risco de perdê-la.