Trazem alento os dados que mostram o avanço da cobertura vacinal dos imunizantes ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças de até dois anos. No Rio Grande do Sul, os números melhoraram em 16 dos 18 fármacos disponibilizados. Em todo o país, em 15. O levantamento é do Observatório de Saúde no Trabalho do Serviço Social da Indústria (Sesi), a partir de estatísticas do Ministério da Saúde.
A cobertura foi ampliada, mas nenhuma das 18 vacinas, no RS ou no país, alcançou a meta de chegar a 95% do público-alvo
Espera-se que tanto o Estado quanto o Brasil como um todo estejam em um movimento consistente de recuperação no nível de proteção das crianças, uma vez que as informações de 2022 já começavam a indicar uma mudança na curva. Desde a segunda metade da década passada, gestores da área, médicos e cientistas vinham demonstrando preocupação com a queda da procura. Mais recentemente, com a eclosão da covid-19, a enxurrada de desinformação sobre vacinas elevou a apreensão.
Há motivos para celebrar a notícia, mas isso não permite acomodação. A cobertura foi ampliada, mas nenhuma das 18 vacinas, no Rio Grande do Sul ou no país, alcançou a meta de chegar a 95% do público-alvo.
O Rio Grande do Sul, por exemplo, alcançou resultados superiores à média nacional em 17 das 18 vacinas oferecidas pelo SUS. Mas apenas quatro chegaram à marca de ao menos 90% de cobertura. Há espaço para melhorar.
Deve-se perseverar, portanto, com as campanhas informativas que sensibilizem pais e responsáveis sobre a importância individual e coletiva de imunizar os pequenos para que cresçam fortes e saudáveis. Trata-se de uma questão de saúde pública, por combater a circulação de patógenos na população como um todo.
É preciso ampliar o alcance de informações mais objetivas, como sobre o calendário de aplicação de cada produto, e desfazer receios responsáveis pela hesitação vacinal. É a melhor forma também para evitar o risco de reaparecimento de doenças consideradas erradicadas do Brasil. O sarampo foi uma das enfermidades que o país voltou a registrar por ter baixado a guarda da vacinação. A poliomielite é uma ameaça.
Conforme a pesquisa do Sesi, os avanços nos índices podem ser atribuídos a um melhor planejamento do Ministério da Saúde, com a criação do Movimento Nacional pela Vacinação, em fevereiro do ano passado, e repasse de verbas para ações de Estados e municípios. Bons resultados só podem ser obtidos se existir uma coordenação competente e compromissada do governo federal para organizar as campanhas, com a colaboração estreita dos Executivos estaduais e prefeituras, na ponta.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, é considerado uma referência internacional. Também não há dúvida de que a pasta da Saúde, sob o comando da ministra Nísia Trindade, soma pontos no quesito de mostrar maior comprometimento para divulgar os benefícios das vacinas utilizadas pelo SUS, eficientes e seguras. Isso não significa, entretanto, estar imune a críticas. Não há como o Ministério se eximir, por exemplo, da demora na aquisição de novos lotes de imunizantes contra a covid-19 para a campanha de imunização deste ano para o público em geral, já atrasada. Há escassez de vacinas em postos de saúde. A alegação de que uma disputa entre fabricantes foi a causa não é suficiente. Neste caso, faltou o planejamento adequado.