Em relação ao início do ano passado, marcado por turbulências políticas e sociais, o Brasil começa 2024 com uma perspectiva bem mais favorável para remover entraves históricos e perseguir as metas almejadas por sua população: a preservação da democracia, a manutenção da estabilidade, o controle da inflação, o equilíbrio das contas públicas, o crescimento econômico sustentável e mais investimentos em educação, saúde e segurança. Os desafios são gigantescos: o ano eleitoral tende a reacender antagonismos políticos e a reativar a polarização ideológica que ainda divide os brasileiros; os avanços econômicos representados pelo arcabouço fiscal e pela reforma tributária continuam ameaçados pela sanha arrecadatória do governo e por sua dificuldade para cumprir o compromisso com o déficit fiscal sob controle. Além disso, muitas outras questões importantes da vida nacional, que vão dos desafios climáticos ao combate à desinformação, precisam ser enfrentadas com coragem, objetividade e sensatez. Há, portanto, muito a fazer pelo país no ano que está começando.
As eleições municipais, embora representem risco de novos conflitos, podem ser também uma grande oportunidade para o fortalecimento dos alicerces da democracia
No âmbito da política, as eleições municipais, embora representem risco de novos conflitos, podem ser também uma grande oportunidade para o fortalecimento dos alicerces da democracia. Para tanto, não basta que partidos e candidatos cumpram rigorosamente a legislação eleitoral, como se espera numa nação que vem dando exemplo de lisura e agilidade nos processos de escolha de seus representantes políticos. É imprescindível, antes de tudo, que os cidadãos exerçam o seu direito de voto de maneira responsável e consciente, baseando-se em informações honestas e confiáveis. E aqui não se pode ignorar que as principais ameaças à integridade do processo eleitoral são as notícias falsas, a manipulação de informações e os posicionamentos antidemocráticos. Cabe, evidentemente, às autoridades combater tais distorções, mas também é dever do cidadão se manter vigilante, não repassar mentiras e investigar em fontes confiáveis as propostas e os currículos dos candidatos.
No âmbito da economia, se a desinflação global não for prejudicada pelas tensões geopolíticas, o Brasil poderá manter sua trajetória de derrubada de juros e de preços – desde que, evidentemente, o governo não comprometa o equilíbrio inflacionário com sua insistência em reonerar atividades produtivas geradoras de empregos. Se não encontrar um caminho mais sensato para elevar a arrecadação, terá forçosamente que contingenciar gastos para não descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. De acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), que prevê crescimento para a economia brasileira em torno de 2% em 2024, será decisivo que a taxa de juros continue baixando e que o governo dê continuidade a programas de valorização do salário mínimo e renegociação de dívidas das famílias de baixa renda.
Política e economia à parte, o ano de 2024 também desafia os brasileiros a lidar adequadamente com a emergência climática, com a inteligência artificial, com a desinformação criminosa, com as mudanças de costumes e as novas visões sobre inclusão, igualdade de gênero, racismo, diversidade e sustentabilidade. Há muito a fazer pelo Brasil neste ano que já está correndo.