O ano que se despede deixa lições importantes para os brasileiros superarem mazelas históricas e encaminharem o país para um futuro melhor. Foi um período de turbulências políticas e sociais, como tantos outros que o Brasil já vivenciou ao longo de sua existência, mas chega ao final com um saldo promissor: a democracia consolida-se depois de passar por sobressaltos, a economia se beneficia de reformas há muito desejadas e até a polarização política abre brechas para o diálogo. Mas são ainda conquistas frágeis, que necessitam de permanente vigilância da sociedade para não se diluírem em novos retrocessos.
Nesse contexto, o que passou não deve ser considerado apenas passado, para que haja efetivo aprendizado. Com esse propósito, concentramos nesta breve retrospectiva os três principais temas que afetaram a vida dos brasileiros e dos gaúchos nos últimos 12 meses: instabilidade política, mudanças climáticas e reformas econômicas.
O que passou não deve ser considerado apenas passado, para que haja efetivo aprendizado
Não há como repassar 2023 sem começar pelo ataque à democracia caracterizado pela invasão e pelo vandalismo às sedes dos três poderes da República, em Brasília, no dia 8 de janeiro. Resultado direto da polarização política e do inconformismo do segmento derrotado na eleição presidencial, a tentativa de golpe provocou imediata reação dos brasileiros fiéis à Constituição e ao ordenamento democrático. Em consequência, as instituições reagiram, a ordem foi restabelecida, os golpistas foram contidos e estão respondendo à Justiça pelo delito. A lição daquele episódio é clara e insofismável: a democracia até saiu fortalecida, mas precisa de constante vigilância.
Também o clima precisa de monitoramento permanente, como se viu no decorrer do período que finda. Secas, enchentes, ciclones e temperaturas difíceis de suportar afetaram a vida de milhões de brasileiros nos últimos meses, castigando especialmente o Rio Grande do Sul, que passou de uma estiagem severa no primeiro trimestre para enchentes sem precedentes no mês de setembro, atingindo cidades inteiras no Vale do Taquari. Tudo isso entremeado por ciclones devastadores. O ano mais quente do planeta nos últimos 125 anos deixou lições que já deveriam ter sido aprendidas: sem cuidados ambientais pelos cidadãos e medidas preventivas pelos governantes, as perdas econômicas e de vidas se tornarão cada vez mais frequentes.
Na economia há avanços inegáveis, mas o país ainda não alcançou suficiente segurança jurídica que o proteja de recaídas populistas e de tentativas inoportunas de interferência nas leis do mercado. Ao mesmo tempo que reconhecem como meritória a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, o setor produtivo e a sociedade em geral veem com desencanto a inapetência governamental para o controle das contas públicas e a consequente obsessão pelo aumento da arrecadação. Tanto que, nos estertores do ano, o Executivo volta a cogitar medida provisória para reverter a manutenção da desoneração da folha de pagamento dos setores empresariais que mais empregam. A lição do bom senso, ao que parece, ainda não foi totalmente assimilada.