Por Jaqueline Carvalho Cunha, educadora financeira
A realidade financeira das mulheres no Brasil é marcada por desafios estruturais que exigem atenção e debate. Um deles, ainda pouco discutido mas profundamente impactante, é o “estresse financeiro” – caracterizado pela ansiedade, preocupação ou grande desconforto quando o assunto é dinheiro.
O peso de carregar múltiplos papéis se torna um obstáculo constante
Dados do relatório “Mensuração do letramento e da inclusão financeira”, conduzido pelo Banco Central (BC), revelam que as mulheres sofrem mais com o estresse financeiro do que os homens, e isso impacta diretamente sua saúde mental. Embora as mulheres sejam tão competentes quanto os homens na gestão financeira, o peso de carregar múltiplos papéis se torna um obstáculo constante.
Muito além dos números, a desigualdade entre os gêneros traz vulnerabilidade. A exclusão das mulheres do mercado de trabalho formal, a sobrecarga doméstica e a disparidade salarial são desafios frequentes. Além disso, a falta de incentivo para aprender sobre finanças na infância e a interrupção de carreiras para cuidar da família agravam ainda mais a situação. Como resultado, esses fatores não geram “apenas” problemas de saúde mental, mas também redução de renda ao longo da vida, dependência financeira, limitações no acesso ao crédito e diminuição das chances de uma aposentadoria digna.
Diante disso, surge um dilema complexo: como uma mulher multitarefas – que trabalha fora, cuida da casa e da família e enfrenta inúmeros obstáculos – conseguirá tempo e disposição para suas finanças?
Nesse cenário, é fundamental dar visibilidade ao que ainda parece “invisível”, reconhecendo – e reduzindo – as múltiplas responsabilidades que recaem sobre as mulheres. Além disso, também é crucial ampliar políticas que minimizem as desigualdades estruturais e reforcem a educação financeira.
Apesar de profundas, não podemos nos acostumar com as marcas da desigualdade. Afinal, essa não é uma simples discussão sobre dinheiro, mas sim sobre sonhos, autonomia, qualidade de vida e, sobretudo, saúde mental!