Por Celso Bernardi, professor, advogado e presidente de Honra do Progressistas-RS
Pesquisas recentes sobre democracia, partidos políticos e os poderes da República (Valor Econômico, 7/2/25) revelam um preocupante déficit de confiança. As igrejas lideram o índice, com 63%, seguidas pelas Forças Armadas, com 47%. O apoio à democracia é de 45%, mas a satisfação com seu desempenho cai para 28%. Os partidos políticos têm o menor índice de confiança, com apenas 16%; o Executivo, 28%; e o Judiciário, 35%.
A polarização política não pode ultrapassar os limites da civilidade
Um dado chocante: apenas 5% dos brasileiros confiam em alguém conhecido, o menor índice entre os 17 países pesquisados. No topo da lista estão México (26%) e Argentina (24%). Os atuais poderes estão fora de órbita e desconectados da realidade econômica e social.
O Executivo começou velho, sem foco e com uma gastança desenfreada. O Legislativo preocupa-se mais com a árvore (o individual) e menos com a floresta (o coletivo). O Judiciário, apesar de seu papel essencial na defesa da democracia, perde credibilidade quando atropela as competências constitucionais e promove inquéritos injustificáveis, sem rito adequado, sem transparência e intermináveis.
A descrença e a falta de confiança interpessoal reforçam o isolamento e fragilizam a democracia. Quem não confia nos que estão próximos dificilmente acreditará na democracia. Como organismo vivo, a democracia precisa do equilíbrio entre as forças políticas. O radicalismo, seja de esquerda ou de direita, compromete o funcionamento do Estado e a estabilidade institucional.
A elegância moral permite o respeito mútuo, e a polarização política não pode ultrapassar os limites da civilidade. A raiva é má conselheira e não aumenta a inteligência.
A omissão não é a solução, e a indignação é necessária, mas, por si só, não resolve os problemas. O cidadão precisa se interessar por política, cobrando transparência e compromisso com o bem comum. E quanto ao futuro? Se nos falta confiança, que nos sobre, como disse Ariano Suassuna, o realismo esperançoso.