Apesar de os números ainda serem pequenos em relação à frota nacional, a alta significativa da venda de automóveis puramente elétricos ou híbridos no Brasil neste ano indica que, mesmo com certo atraso em relação às principais economia do mundo, esta é uma tendência que se imporá também no país. Sendo uma propensão global, deve-se esperar que, por aqui, sejam rapidamente construídas condições de mercado que favoreçam o movimento paulatino de substituição dos motores movidos por combustíveis fósseis, colaborando com a descarbonização da economia.
Puxada por montadoras chinesas, a produção de automóveis elétricos no Brasil deve dar a largada a partir do próximo ano
Reportagem de Marcelo Gonzatto veiculada na terça-feira em Zero Hora revelou que, no Estado, de janeiro a novembro, houve crescimento de 85% nos emplacamentos de carros eletrificados em comparação com igual período de 2022. No país, a alta foi de 78%. Mesmo assim, são apenas 207 mil automóveis leves com esta nova tecnologia em meio a uma frota circulante de 38,3 milhões de veículos de passeio espalhados pelo Brasil. Somente 0,54% do total, portanto, conforme dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), entidade que representa o setor.
Não há dúvida de que a decisão do governo de elevar a partir do próximo ano o imposto de importação acelerou a busca dos consumidores em 2023. Ainda assim, o próprio segmento aposta que a volta progressiva da taxação, até metade de 2026, não será capaz de colocar um freio na tendência.
Puxada por montadoras chinesas, a produção de automóveis elétricos no Brasil deve dar a largada a partir do próximo ano, com unidades fabris hoje em construção. Essa reoneração controversa, aliás, é justificada como forma de incentivar a fabricação no Brasil. Uma das grandes barreiras, hoje, é o preço dos veículos elétricos. Mas, conforme o domínio da tecnologia avançar, a escala de produção aumentar e a concorrência se acirrar, a tendência é de os valores diminuírem. Hoje já existem modelos ao custo de R$ 150 mil, e uma das chinesas, que está entre as principais expoentes do segmento no mundo, promete lançar em 2020 um modelo que custará cerca de R$ 100 mil no país. Não é tão distante dos veículos com motor de combustão mais em conta disponíveis nas revendas nacionais.
Outro aspecto importante para a popularização dos elétricos é a disponibilidade de pontos de recarga públicos espalhados por cidades e rodovias. Também a este ponto o mercado tende a responder de forma natural. Conforme a frota for aumentando, empreendedores se movimentarão para criar mais locais para a recarga dos carros. Enquanto isso, outras iniciativas começam a suprir parte dessa deficiência, como o projeto da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da CEEE Equatorial de criar a Rota Elétrica do Mercosul, uma rede de 10 pontos de recarga rápida que vai de Torres, no Litoral Norte, à zona sul do Estado. A economia para abastecer na comparação com a gasolina é mais um fator que tende a elevar a procura por elétricos com o decorrer do tempo.
Ao redor do mundo, legislações e incentivos tentam acelerar a adesão aos veículos elétricos. Nos EUA, a meta é chegar a 2030 com 50% da frota movida a bateria. Para isso, o governo destinou US$ 7,5 bilhões para formar uma rede de eletropostos em todo o país. Na União Europeia, a partir de 2035 só serão permitidos motores a combustão que utilizem combustíveis sintéticos. A China iniciou em 2014 uma política de incentivos fiscais para impulsionar o mercado e a produção de veículos elétricos. Em junho, decidiu prorrogar as medidas até 2027. No Brasil, não há metas que falem de prazos nem estímulos significativos. Alguns Estados, como o Rio Grande do Sul, isentam de IPVA os 100% elétricos. Aguarda-se que o próprio mercado, no decorrer dos próximos anos, se encarregue de não deixar o Brasil para trás nessa tendência mundial.