Mesmo que uma análise de mais longo prazo aponte uma tendência clara de redução dos índices de criminalidade no Rio Grande do Sul, alguns dados apresentados na quinta-feira pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública são motivo de preocupação. Exigem atenção, análise e providências. Entre as conclusões que geram inquietação está a de que Porto Alegre teve, em 2022, a maior taxa de homicídios entre as capitais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
As informações disponíveis indicam que a principal razão para o aumento dos homicídios em Porto Alegre é a guerra entre facções
Conforme a publicação do Fórum Nacional de Segurança Pública, a cidade teve 322 casos em 2021 e 400 no ano passado. A taxa de mortes para cada 100 mil habitantes passou de 24 para 30, um crescimento de 24,8%. Foi a terceira maior alta entre as capitais brasileiras, atrás apenas de Cuiabá (MT) e de Palmas (TO). Na comparação com suas 25 pares e o Distrito Federal, Porto Alegre teve a 12ª maior taxa. Destoa, por exemplo, da situação do Rio Grande do Sul como um todo, que teve a sexta menor proporção de assassinatos em relação ao número de habitantes.
As informações disponíveis indicam que a principal razão para o aumento dos homicídios em Porto Alegre é a guerra entre facções. Foram vários episódios no ano passado de surtos de barbárie desencadeados pelas disputas de grupos criminosos que, além do tráfico de drogas, cada vez mais expandem seus interesses para outros delitos. Na quinta-feira, na zona sul da Capital, cinco pessoas morreram após confronto com a Brigada Militar, e, conforme a corporação, a origem do tiroteio foi um enfrentamento entre facções rivais.
Tanto as conclusões do anuário quanto o episódio recente reforçam a importância de combater essas organizações – nas ruas, nos presídios, com a descapitalização de seus líderes e a apreensão de armas. Não é uma tarefa apenas das forças de segurança. Requer maior presença do poder público nas comunidades em que essas quadrilhas atuam, com boa oferta de saúde, educação, esporte, cultura e oportunidades profissionais para dar opções sadias aos jovens desses locais. Mesmo que grande parte dos homicídios seja fruto de disputa entre criminosos, a violência a qualquer momento pode atingir inocentes. Sufocar esses grupos também significa impedir que ampliem seus tentáculos.
Segurança é um dos principais quesitos da qualidade de vida de uma cidade. Qualidade de vida é fator decisivo para um município se desenvolver ou estagnar, inclusive economicamente, o que também afeta o fluxo de chegadas e partidas de pessoas. A capital dos gaúchos, é preciso lembrar, perdeu população nos últimos 12 anos, como mostrou o Censo Demográfico de 2022. Neste momento, consolida novas vocações, como de polo de saúde, de tecnologia e de inovação. Estas duas últimas áreas despertam especial interesse de jovens. Mas outros centros urbanos importantes do país têm objetivos semelhantes. Combater a violência também passa a ser essencial para reter e atrair capital humano. Para competir com outras capitais, é preciso avançar nesse quesito.