Antes da pandemia, o Estado vinha registrando, ao longo dos anos, uma tendência constante de queda no número de mortes no trânsito. As quantidades de vítimas fatais caíram ainda mais em 2020, no início da crise sanitária, com a menor circulação de pessoas e veículos nas cidades e nas estradas. A partir da flexibilização das restrições e da maior mobilidade, as estatísticas voltaram a subir, o que até era esperado. Mas o quadro volta a a gerar maior preocupação.
Será preocupante se, ao fim, o número estiver indicando uma reversão na tendência de queda de pessoas mortas em ruas e rodovias do Estado
Reportagem de Marcelo Gonzatto publicada ontem em Zero Hora revela que, de janeiro a maio, o Rio Grande do Sul registrou 696 mortes no trânsito. Pode parecer pouco uma elevação de 2,8% em comparação a igual intervalo do ano passado, de acordo com informações do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Mas deve-se atentar para o fato de que é uma soma superior ao mesmo período de 2019, antes da pandemia. Será preocupante se, ao fim, o número estiver indicando uma reversão na tendência de queda de pessoas mortas em ruas e rodovias do Estado.
Autoridades e especialistas da área têm de averiguar os dados em suas minúcias no intuito de compreender o que está ocorrendo para uma intervenção mais efetiva. Uma das conclusões que saltam aos olhos é a de que o sábado passou a ser o dia com maior incidência de casos fatais. Sábados, sextas-feiras e domingos, sempre à noite, são os períodos mais críticos. É um indício de que entre as principais razões para essa situação pode estar o consumo de álcool ao volante, associado ao excesso de velocidade e à imprudência.
Impedir que o aumento registrado neste ano – com uma morte a cada cinco horas – signifique uma mudança na curva ao longo do tempo depende de ações imediatas, que tenham maior efeito em prazos mais largos. Passa, de imediato, por uma fiscalização ostensiva mais eficiente de órgãos municipais de trânsito e de polícias rodoviárias. Deve ser verificado ainda se não há novos pontos que necessitam de equipamentos de controle de velocidade. A educação para o trânsito também é basilar, sedimentando a consciência da importância de uma direção defensiva e do risco de comportamentos perigosos, como o uso de celular enquanto se conduz o veículo. Em vias urbanas e estradas, não é incomum flagrar atitudes imprudentes, como a desobediência a regras básicas de trânsito por motociclistas ou ultrapassagens temerosas por motoristas apressados.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) diz estar colocando em prática um plano emergencial, com atenção especial aos trechos com maior incidência de acidentes, como o perímetro urbano da BR-116 entre Novo Hamburgo e Porto Alegre. A instituição promete ainda verificar os pontos das estradas que precisam de correções e reparos, para melhorar a trafegabilidade, o que inclui pavimentos, sinalização e iluminação.
A qualidade da infraestrutura é essencial para diminuir as mortes no trânsito. No momento, estão em andamento as duplicações de rodovias federais importantes em trechos das BRs 116, 386 e 290. Quando as obras forem concluídas, por certo se tornarão vias mais seguras. No início de junho, o jornal Pioneiro mostrou que, de janeiro a maio, na Serra, as mortes em acidentes de trânsito subiram 34% sobre os primeiros cinco meses de 2022. É uma alta bem superior à média estadual. A região tem rodovias de pista simples, sinuosas e com grande fluxo. A concessão assinada no final do ano passado promete duplicações e melhorias em vias que cortam os municípios locais. Entre elas está a RS-122, uma das mais perigosas.
As estatísticas de 2023 no Estado são um sinal amarelo. Não é admissível deixar de agir e permitir uma nova escalada de mortes. É preciso deter a carnificina do trânsito, fazendo com que os números voltem a cair nos próximos anos.