Os resultados do Censo Demográfico de 2022, divulgados há menos de duas semanas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram uma velocidade de envelhecimento da população maior do que a esperada. A constatação voltou a suscitar o debate sobre a priorização de políticas para impulsionar a produtividade da economia, em especial do trabalho. É consenso que a chave para esse salto é a educação, com a formação de mão de obra mais qualificada e preparada para a vida profissional.
Modalidade eleva a empregabilidade e a renda dos egressos e é capaz de ampliar o potencial de crescimento da economia
Um estudo divulgado na terça-feira pelo Itaú Educação e Trabalho demonstra que o Ensino Médio Técnico é uma alternativa a ser mais bem explorada no Brasil para alcançar esse objetivo. É uma opção, como se sabe, mais direcionada à preparação dos jovens para as demandas do mercado. As conclusões do relatório são de que a modalidade eleva a empregabilidade e a renda dos egressos e é capaz de ampliar o potencial de crescimento da economia e de diminuir a desigualdade. Seria aconselhável que os formuladores de políticas públicas se debruçassem sobre o estudo completo, se convencessem da capacidade de o Ensino Técnico alavancar a economia e buscassem formas de viabilizar a ampliação da rede.
Deve-se notar, por exemplo, que o Brasil está hoje atrasado nessa caminhada. Apenas 8% dos alunos formados no Ensino Médio saem dos bancos de cursos técnicos. Nos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média pula para 37%. Na vizinha Colômbia, chega a 24%. No Chile, o percentual é de 29%. Há, portanto, espaço para avançar.
As conclusões do levantamento do Itaú Educação e Trabalho indicam que os profissionais que passaram pelo técnico no Brasil ganham, em média, 32% a mais em comparação aos formados no Ensino Médio tradicional. A taxa de desemprego é menor: 7,2%, ante 10,2% dos demais. Os economistas responsáveis pelo documento fizeram ainda exercícios para projetar os ganhos futuros. Se o número de vagas no Ensino Técnico fosse dobrado, em uma década o PIB poderia crescer 1,34% a mais. Se fosse triplicado, o potencial seria de 2,35%. Como observou em entrevista ao jornal Valor Econômico o economista Sergio Firpo, um dos coordenadores do trabalho, é um empurrão semelhante ao previsto para a reforma tributária. Conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a reformulação dos impostos no Brasil pode fazer a atividade subir 2,39% além do que cresceria se mantido o sistema atual.
Outra descoberta é a de que, entre os formados no Ensino Técnico, é maior a propensão a cursar uma faculdade. Ou seja, cria-se um círculo virtuoso de capacitação, que se traduz em maior produtividade e renda, com os benefícios se espalhando para todo o tecido econômico. No Rio Grande do Sul, onde a transição demográfica ocorre de maneira ainda mais rápida, é um caminho a ser examinado com maior atenção. O Sistema S é um exemplo a ser seguido, mas é necessário ampliar e qualificar a oferta de cursos.
O Plano Decenal da Educação Profissional e Tecnológica, elaborado e apresentado no ano passado, projeta elevar o número de cadeiras e chegar a 2033 com 115 mil alunos no Ensino Técnico apenas na rede estadual, mais do que quadruplicando o número de matrículas. Um dos desafios é formar professores para assegurar esta futura oferta. Outro é modernizar currículos, conforme a demanda do mercado e as novas habilidades exigidas, sem se esquecer de que, em cada região, os cursos disponíveis devem estar alinhados às características e vocações econômicas locais.