Não se pede nada além de bom senso diante dos números recordes de casos e mortes por dengue no país. A sensatez, no caso, é o Ministério da Saúde adquirir a vacina japonesa disponível no mercado, após a devida análise e a possível recomendação do produto pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). O imunizante Qdenga, da farmacêutica Takeda, foi aprovado em março pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e já é aplicado pela rede privada para pessoas de quatro a 60 anos.
Ocorre que o custo é alto. O esquema completo de vacinação, de duas doses, pode custar quase R$ 1 mil, valor inviável para a grande maioria dos brasileiros. Como se sabe, a população carente é a que mais sofre com a doença. Para também ser protegida, é necessário que a vacina existente possa ser disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Como se cansou de repetir ao longo da crise da covid-19, vacina boa é vacina no braço
A empresa proprietária da tecnologia informou que vai submeter a sua vacina à Conitec ainda neste mês. O tempo de análise é de ao menos 180 dias, e só depois, em caso de aprovação, seria possível uma incorporação ao Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Os ruídos e as dúvidas surgiram após o Ministério da Saúde informar que a preferência seria pela vacina nacional, em desenvolvimento pelo Instituto Butantan. O problema é que o produto da instituição paulista, ainda em fase de testes, deve ser analisado pela Anvisa apenas no final do próximo ano. Se todo o cronograma otimista se confirmar, as primeiras doses para distribuição serão disponibilizadas apenas em 2025.
A situação epidemiológica no país – e também no Rio Grande do Sul – mostra que não é prudente esperar, mesmo que no futuro se dê preferência ao fármaco nacional, com produção local e custo menor. O quadro é de emergência. As estatísticas da doença são eloquentes. Em 2022, a enfermidade causou a quantidade recorde de 1.016 mortes no país. Neste ano, até o final de junho, foram 635 óbitos. O Estado registrou 66 casos fatais no ano passado e, agora, até a metade de 2023, são 50. Deve ser ressaltado que o mundo passou a estar sob influência do fenômeno El Niño. Para o Centro-Sul do país, isso significa temperaturas maiores e mais chuvas. É um clima favorável à proliferação do mosquito Aedes aegypti, que se reproduz na água parada.
A incorporação da vacina japonesa, se recomendada pela Conitec, é defendida por especialistas, exatamente pela evolução da doença nos últimos dois anos e pelo fato de o imunizante do Butantan ter previsão de estar disponível apenas daqui a dois anos. Não há certeza sobre o volume que a Takeda poderia viabilizar para o país. Mas seria importante tê-la como opção, mesmo que apenas para grupos mais vulneráveis e temporariamente. Caso contrário, apenas uma minoria com condições financeiras poderá se proteger da dengue, que, apenas em 2023, já alcançou a marca de mais de 1,3 milhão de casos prováveis no país. Como se cansou de repetir ao longo da crise da covid-19, vacina boa é vacina no braço.