O furto de fios e cabos, especialmente de cobre, virou um problema sem respostas efetivas até agora nas grandes e médias cidades do país. Por mais que as autoridades municipais anunciem medidas, aprovem-se leis mais rigorosas e as forças policiais se mobilizem para investigar a cadeia da receptação, é um crime que persiste, causando prejuízos e transtornos para a população. Só é possível concluir que ainda não foram encontradas formas eficientes de atacar esse delito.
Deve-se reconhecer os esforços das autoridades para inibir esses delitos, mas não há como negar que, até agora, mostram-se insatisfatórios
Os episódios recentes de Porto Alegre são eloquentes. Apenas nas duas primeiras semanas de março, 54 semáforos foram desligados pela ação de pessoas que furtam para revender o material, muitas vezes para adquirir drogas. Há sinaleiras que ainda permanecem fora de operação, elevando o perigo de acidentes em alguns cruzamentos. De acordo com a EPTC, já foram mais de 8,1 mil metros de fios e cabos furtados em pouco mais de dois meses e meio, quase a mesma extensão de todo o ano de 2022, um total de 8,41 mil metros.
Uma tentativa de levar a fiação de uma estação de bombeamento no bairro Medianeira, também em Porto Alegre, deixou momentaneamente quase 300 mil pessoas sem água no último dia 17. São recorrentes, da mesma forma, os casos de praças e parques que ficam às escuras, causando também problemas de segurança. A paralisação dos serviços do trensurb tem sido corriqueira. Apenas no ano passado, foram mais de cem ocorrências, prejudicando a população da Região Metropolitana que usa o transporte sobre trilhos.
O tema, como dito antes, é uma preocupação em várias cidades. Em Rio Grande, a prefeitura enviou neste mês para a Câmara de Vereadores projeto de lei prevendo medidas de prevenção ao furto e à receptação de fios metálicos. A CEEE Equatorial registrou, em 2022, mais de 2,7 mil casos de fiação removida por criminosos no município. Na área de concessão da empresa, foi um número maior inclusive que o de Porto Alegre.
Por trás dessa onda de furtos está a valorização do cobre no mercado mundial. Para combatê-la, é necessário elevar a vigilância nas ruas e contar com o apoio da população denunciando rapidamente as ações quando são notadas. Será necessário ainda, quando for possível, substituir o cobre por outro material metálico menos valioso, como o alumínio, algo que já vem ocorrendo em outras cidades brasileiras. É basilar também apertar ainda mais a fiscalização em estabelecimentos que recebem o material sem origem.
Na Capital, têm sido realizadas operações conjuntas entre Guarda Municipal, Brigada Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e EPTC, que resultaram em pontos autuados e interditados. Após o surto de ocorrências na primeira metade do mês, foi deflagrada na semana passada uma operação para elevar o patrulhamento ostensivo nas madrugadas.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, ontem, o prefeito Sebastião Melo disse que pretende propor tornar mais dura a legislação municipal relacionada aos ferros-velhos e pontos que recebem recicláveis metálicos, aprovada no ano passado. A intenção seria fazer com que, nos locais onde for flagrado material irregular, toda a mercadoria do estabelecimento seja apreendida, não apenas os fios. Deve-se reconhecer os esforços das autoridades para inibir esses delitos, mas não há como negar que, até agora, mostram-se insatisfatórios. Os números estão aí para comprovar.