Há algum tempo, especialistas em educação vêm alertando sobre o risco de uma espécie de apagão de professores no país nos próximos anos. Alguns fatores se interligam para esse cenário ser projetado. Entre eles, o baixo interesse dos jovens pelas carreiras de licenciatura, os salários considerados pouco atraentes e a idade média avançada do corpo docente, mais próximo, portanto, da aposentadoria, sem a devida reposição. No Rio Grande do Sul, onde a transição demográfica ocorre em uma velocidade acima da média nacional, por óbvio esse problema deve merecer especial atenção.
Professores efetivados podem se dedicar de forma exclusiva, com melhores resultados no processo de ensino de crianças e adolescentes
Vai no sentido de enfrentar essa questão o anúncio do Palácio Piratini de realização de um concurso para a contratação de 1,5 mil professores. Ontem, em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, o governador Eduardo Leite informou ainda a possibilidade de mais um certame em 2023. É preciso lembrar também que um dos principais compromissos do governador, incluído na promessa de priorizar a educação no seu segundo mandato, é uma substancial expansão de escolas com turno integral no Ensino Médio. Até 2026, a proposta é chegar a 50% da rede nessa modalidade.
Para atender a essa demanda serão necessários mais professores. Deve-se recordar ainda que, devido às dificuldades das finanças públicas, são 10 anos sem a realização de concurso para o magistério estadual, com consequências lógicas. Faltam mestres em várias escolas e, muitas vezes, para preencher essas lacunas, o Estado recorre a contratações emergenciais, o que não é o ideal. Servidores efetivados podem se dedicar de forma exclusiva, com melhores resultados no processo de ensino de crianças e adolescentes. Os prejuízos na aprendizagem causados pela pandemia exigem esforço extra para recuperar o déficit na assimilação dos conteúdos, nítido em todas as avaliações aplicadas até aqui nos alunos.
As 1,5 mil vagas, como informou o Estado, são para as 30 Coordenadorias Regionais de Educação (CREs). Em aderência a um decreto estadual de 2021 que cria cotas para os certames estaduais, haverá reserva de vagas para pessoas com deficiência, indígenas, negros e transgêneros. A data esperada para a aplicação da prova é 25 de julho. Espera-se, agora, um bom número de inscrições.
Ter um quadro de professores adequado à demanda, no entanto, é apenas uma das frentes necessárias para a oferta de um ensino qualificado aos estudantes da rede estadual. Além das questões pedagógicas, há em curso iniciativas para evitar a evasão, cursos de reciclagem para docentes com incentivo financeiro e vinculação de repasse de ICMS a municípios conforme o desempenho dos alunos, entre outras políticas que espera-se apresentem bons resultados em um futuro próximo. Mas uma das urgências, como admite o próprio Piratini, é tirar do papel o plano de reformas em escolas, especialmente nas 176 identificadas como as que estão em situação mais precária e que receberão aporte emergencial de R$ 30 milhões.