Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) precisarão ter especial critério e capacidade de ler o cenário para a reunião que começa hoje e se encerra amanhã. Não é esperado que seja anunciada a redução da Selic, hoje em 13,75% ao ano, mas há uma elevada expectativa em relação ao tom do comunicado a ser divulgado pelo colegiado. É o que fará possível projetar os próximos passos do BC diante de um horizonte de elevada complexidade tanto no país quanto no Exterior. Todos esses fatores fazem da reunião desta semana uma das mais importantes dos últimos tempos.
Diante de tantas incertezas, seria oportuno que o governo apresentasse amanhã a proposta de novo marco fiscal
A dificuldade está na multiplicidade de sinais em sentidos contrários. A expectativa de inflação para 2024, prazo relevante para as decisões do BC, segue se deteriorando. Conforme o boletim Focus divulgado ontem, as projeções do mercado passaram de um IPCA de 4,02% na semana passada para 4,11% agora.
Por outro lado, vários indicadores apontam para o enfraquecimento da atividade econômica. Ontem mesmo foi noticiado que três montadoras de automóveis estão dando férias coletivas em algumas fábricas por falta de demanda. O juro alto, em níveis asfixiantes, é um dos fatores apontados como causa. O desemprego apurado pelo IBGE terminou o trimestre móvel encerrado em janeiro deste ano em 8,4%, ante 8,3% no recorte de três meses imediatamente anterior. É uma estabilidade, mas mostra o esgotamento do ciclo de queda da desocupação. A situação financeira da população segue preocupante. Reportagem publicada ontem em Zero Hora é ilustrativa. Em fevereiro, o percentual de famílias inadimplentes na Capital chegou a 39,5%, acelerando ante o patamar de 36,4% de janeiro. Não se deve esquecer também da forte pressão política de membros do governo e do PT sobre o BC.
Diante de tantas incertezas, seria oportuno que o governo apresentasse até amanhã a proposta do novo marco fiscal. Um arcabouço robusto e factível, que sinalizasse responsabilidade com as contas públicas, certamente teria influência positiva se fosse incluído entre os elementos avaliados pelo Copom e, em tese, poderia reforçar perspectivas de corte no juro básico ainda neste ano. O ideal seria que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chancelasse o plano até quarta-feira. Sabe-se, no entanto, que Lula pretende se manifestar antes de embarcar para a China no sábado. Por pedido do presidente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda faria consultas aos presidentes da Câmara e do Senado e a economistas sem ligação com o mercado financeiro.
O Copom também incorporará aos elementos cotejados a conjuntura internacional, marcada nos últimos dias por quebras e dificuldades de bancos dos Estados Unidos e da Europa, sem ainda existir certeza sobre a extensão da crise. Ainda depois de amanhã, antes do fim do encontro do BC, será encerrada a reunião do banco central norte-americano. Há, da mesma forma, grande expectativa acerca da sinalização sobre o juro na maior economia do mundo. Quando há estas coincidências de datas, o dia passa a ser chamado de “superquarta”, uma qualificação desta vez ainda mais adequada pela grande repercussão das decisões. A posição tomada nos EUA certamente será esquadrinhada com lupa pelo Copom.
Resta desejar que os membros do colegiado tenham o discernimento e a sensibilidade necessários para ponderar todas as variáveis à mesa e saibam indicar o melhor caminho para um futuro próximo sem tantas inseguranças. Deve-se lembrar que os objetivos do BC, que constam em lei válida desde 2021, são de especialmente “assegurar a estabilidade de preços”, mas também, como diz a mesma legislação, sem prejuízo de sua principal missão, “suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego.”