Parecem ser mais promissores os sinais de uma possível reviravolta na resistência da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em relação ao projeto do grupo espanhol Cobra de erguer em Rio Grande um complexo composto por um terminal de regaseificação, um píer e uma termelétrica. Trata-se de um empreendimento orçado em cerca de R$ 6 bilhões, um dos maiores investimentos privados já realizados no Rio Grande do Sul, mas que ainda enfrenta um impasse para sair do papel. Ocorre que, quando o negócio ainda pertencia a outra empresa, a outorga foi cassada devido ao descumprimento de prazos e, com isso, a Aneel resiste em aceitar a retomada sob novo controlador.
Há demanda reprimida, e, para solucionar este problema, a melhor opção é viabilizar o complexo de Rio Grande
As boas notícias, reveladas na sexta-feira em Zero Hora pela colunista Giane Guerra, indicam maior abertura da Aneel para rever a posição. Há um recurso administrativo tramitando na agência reguladora e, como reforço, existe uma articulação também política em busca de desatar os nós que ainda emperram o complexo. É preciso acreditar que negociação, bom senso e argumentações sólidas podem levar a um desfecho favorável para os interesses do Rio Grande do Sul.
O governador Ranolfo Vieira Júnior e o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, estiveram na Aneel na quinta-feira. Costa informou ter ficado com a impressão de que o relator do processo, o diretor-geral Hélvio Guerra, mostrou-se “muito sensível” em relação à relevância do projeto. E realmente é de grande importância.
O empreendimento é essencial para a segurança energética do Estado. A térmica, de 1,2 mil megawatts (MW), aproximaria o Rio Grande do Sul da autossuficiência. Ainda hoje, parte significativa da eletricidade consumida pelos gaúchos vem de outras regiões do país. Cria ainda uma importante perspectiva de ampliação da oferta de gás natural. Essa disponibilidade eleva a possibilidade de atração de novos investimentos para o porto e seu entorno e gera condições para incrementar a utilização do insumo no Rio Grande do Sul para as mais diversas finalidades, do uso residencial ao GNV, combustível para automóveis. Hoje há dependência de uma única fonte, o Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), com capacidade praticamente esgotada. Há demanda reprimida, e, para solucionar este problema, a melhor opção é viabilizar o complexo de Rio Grande.
A Aneel tem os seus motivos para ser cautelosa. O projeto teve a expectativa de ser implementado ao vencer leilão de energia em 2014. Deveria estar concluído em 2019, por força de contrato, mas não avançou. Um dos entraves era o licenciamento ambiental, etapa agora vencida. O Grupo Cobra, por sua vez, tem capital e histórico sólido na área. Tem credibilidade, portanto. Resta aguardar que as conversações e análises internas na Aneel prossigam e cheguem a um bom termo e a conclusão seja o sinal verde a um projeto estratégico para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.