Empossada ontem, Rosa Maria Pires Weber, 73 anos, é a terceira mulher a presidir o Supremo Tribunal Federal (STF). Gaúcha de Porto Alegre, assume a mais alta Corte do país com uma missão de significativa complexidade à frente: guardar a Constituição, defender o Judiciário de ataques institucionais e, ao mesmo tempo, agir e manifestar-se de maneira ponderada para não alimentar ainda mais as repetidas crises que regularmente têm afetado a relação entre os poderes da República.
O perfil discreto de Rosa Weber, junto à firmeza que tem demonstrado, talvez faça com que seja o nome indicado para conduzir o STF nestes dias turbulentos
O conhecido perfil discreto da ministra Rosa Weber, junto à firmeza que tem demonstrado nos casos em que é relatora, talvez faça com que seja o nome indicado para conduzir o STF nestes dias turbulentos. Momentos tormentosos necessitam de uma postura que saiba conciliar determinação com sensatez para evitar instabilidades contraproducentes. Isso inclui ter o tato para pautar oportunamente temas polêmicos, mas que o Supremo tem de enfrentar.
Rosa Weber chegou ao STF em 2011, oriunda do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Antes, chegou a presidir o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), com sede na Capital. Notabilizou-se por ser refratária a entrevistas, palestras, aparições públicas e por evitar manifestações que possam ser interpretadas como carregadas de algum viés político. Não é vista em círculos sociais, ao contrário de outros colegas conhecidos por também serem presentes e atuantes nos bastidores do poder. Prefere falar nos autos, postura que ajudou a forjar a imagem de discrição da magistrada. À frente do STF, no entanto, previsivelmente terá de fazer pronunciamentos para escudar a Corte e a democracia, tendo a formalidade do plenário como o cenário ideal, reforçando a institucionalidade. Foi o que fez na sessão solene de posse.
O dia de ontem talvez sirva como uma amostra da conduta aguardada da nova presidente do STF. Um exemplo de sobriedade foi a cerimônia de posse, protocolar, sem coquetel ou jantar para um grande número de convidados. Não deixou, no entanto, que a data influenciasse no cumprimento de suas funções e, a pedido de membros da CPI da Covid, determinou novas diligências por parte da Polícia Federal relacionadas às investigações sobre a atuação do presidente Jair Bolsonaro ao longo da pandemia.
Rosa Weber comandará a Corte guardiã da Constituição por pouco mais de um ano, e não por um biênio, como é o usual. Ocorre que ela completa 75 anos em outubro de 2023 e, assim, terá de se aposentar compulsoriamente. Além do STF, presidirá o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Sua passagem pelo tribunal será lembrada como exitosa se, como se espera, fizer uma gestão técnica, em anteparo à Constituição, levando a Casa imiscuir-se o menos possível em temas políticos. Isso não significa deixar de fazer a defesa institucional do Supremo e do Judiciário sempre que for necessário.