A irrupção de uma nova onda de violência entre facções nos últimos dias na Capital e em outros municípios da Região Metropolitana exigia, de fato, uma ação contundente das forças de segurança do Estado. A barbárie tem de ser estancada. Apenas entre o último domingo e a sexta-feira, 15 pessoas foram assassinadas a tiros em diferentes ocorrências. Em um único ataque, na zona sul de Porto Alegre, foram três mortos e mais de 20 baleados. Uma decapitação também relembrou o período de maior brutalidade entre grupos criminosos, com auge há cerca de cinco anos.
Agiram rápido a Brigada Militar, ao aumentar o policiamento ostensivo, e a Polícia Civil, que na quinta-feira deflagrou operação
Agiram rápido a Brigada Militar, ao aumentar o policiamento ostensivo nos pontos críticos, e a Polícia Civil, que na quinta-feira deflagrou a operação Senhores do Crime e cumpriu mais de 20 mandados de prisão contra lideranças de três facções envolvidas. É preciso lembrar que esse foi o segundo surto de hostilidades entre correntes concorrentes neste ano. Uma resposta célere era indispensável. Como disse o delegado Alencar Carraro, diretor de investigações do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), é preciso trabalhar, com a colaboração do Judiciário, para que estes indivíduos possam ser direcionados ao sistema penitenciário federal, isolando-os e evitando que emitam ordens e recebam informações de seus comandados. Muitos, inclusive, já estão presos. É mais um sinal a reforçar a necessidade de cortar a comunicação com as ruas.
Diante do desafio de um combate eficaz às facções, foi um bom sinal a reunião realizada na quinta-feira entre o prefeito da Capital, Sebastião Melo, e sua equipe, com o governador Ranolfo Vieira Júnior e a cúpula da Segurança do Estado, para troca de informações e alinhamento de estratégias. Não é admissível cogitar que existam regiões fora do controle do poder público. Ondas de violência do gênero sempre podem transbordar, atingindo inocentes. Os conflitos aterrorizam os moradores das comunidades, pessoas honestas e trabalhadoras em sua esmagadora maioria, com reflexos nas próprias atividades essenciais prestadas à população, como o atendimento à saúde e o funcionamento de escolas. Estes cidadãos necessitam da presença do Estado, para que possam tocar suas vidas com tranquilidade.
Chama atenção a revelação de que, enquanto os conflitos transcorrem, as lideranças seguem conversando diariamente sobre o controle de territórios e negociam armas e drogas. Os contatos foram descobertos ao longo das investigações da Polícia Civil. Ou seja, os soldados do crime parecem agir com certa autonomia, não necessariamente guiados por uma cadeia de comando. Muitas vezes atribui-se a acordos entre facções períodos de arrefecimento na selvageria, uma vez que os conflitos atrapalhariam os negócios criminosos. Mesmo que isso ocorra, não é possível aceitar como uma solução. É preciso manter o cerco, com o uso dos instrumentos de inteligência, monitorando os movimentos e sufocando financeiramente as lideranças, prendendo-as e isolando-as, avançando no bloqueio de sinal de celular nos presídios, ao mesmo tempo que o policiamento ostensivo inibe ações criminosas nas ruas e protege a população.