O mundo se despede de uma das figuras mais marcantes das últimas décadas. A rainha Elizabeth II, a mais longeva monarca do Reino Unido, morreu ontem aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, na Escócia, local que costumava frequentar nos meses de verão. Ao longo dos 70 anos de reinado, Elizabeth Alexandra Mary foi sobretudo um símbolo de estabilidade para a família real e seus súditos, mas também foi uma personalidade admirada ao redor do planeta pela postura de discrição, dignidade e decência.
A rainha deixa como legado a prova de que carisma e serenidade podem caminhar juntos na personalidade de uma liderança
Proclamada rainha aos 25 anos, em 1952, por uma casualidade desencadeada pela decisão do tio Edward VIII de abdicar ao trono para se casar com uma plebeia divorciada, Elizabeth II foi testemunha e protagonista de alguns dos mais dramáticos episódios dos séculos 20 e 21. Atuou nas Forças Armadas durante a Segunda Guerra Mundial, viu já como monarca o processo de perda de influência do Império Britânico, a tensão da Guerra Fria, o esfacelamento da União Soviética e, mais recentemente, o Brexit e a pandemia da covid-19.
Apesar de não exercer função política ou administrativa pela característica da monarquia constitucional britânica, Elizabeth II foi, no transcorrer de perturbações geopolíticas, conflitos bélicos e crises internas, uma voz firme mas acalentadora a passar mensagens de união e de resiliência para a população. Como alicerce moral do Reino Unido moderno, deixa como legado a prova de que carisma e serenidade podem caminhar juntos na personalidade de uma liderança. Assim, conquistou profundo respeito e admiração, administrando com retidão inclusive os escândalos que envolveram a família real. Construiu a sua reputação pelo exemplo, preservando a instituição da monarquia.
Por coincidência, a última mensagem oficial da rainha foi direcionada aos brasileiros. Elizabeth II parabenizou o país pelo Bicentenário da Independência e lembrou recordar-se com carinho da visita que fez ao Brasil em 1968.
Com o falecimento, após sua saúde vir gradativamente se deteriorando nos últimos meses, a coroa britânica será assumida pelo filho mais velho da monarca, o príncipe Charles, 73 anos. Reinará como Charles III e chega ao trono em meio ao grave conflito entre Rússia e Ucrânia, que causa consequências duras na Europa, principalmente quanto ao fornecimento de energia e à inflação. Espera-se que o novo soberano e chefe de Estado tenha sabedoria e temperança para que, com suas atribuições, mesmo que de caráter mais simbólicos, ajude o Reino Unido e o mundo a perseverar na busca por dias melhores.