O presidente Jair Bolsonaro poderia contribuir mais com o país, com benefícios para o próprio governo, se compreendesse que o cargo que ocupa exige responsabilidade nas declarações. O caso mais recente envolvendo a Petrobras é um exemplo. Nos últimos dias, Bolsonaro voltou a dar a entender que, de forma indevida, teria conhecimento sobre decisões de alterações de preços dos combustíveis pela petroleira. Ávido por dar boas notícias aos brasileiros, o presidente declarou que, em breve, a Petrobras anunciaria uma redução de valores cobrados nas refinarias.
O presidente deveria perceber que apenas causa mais tumulto quando leva a público informações sobre a Petrobras, pouco importa se concretizem-se ou não
Ao fazer a manifestação, Bolsonaro repetiu o ato de outubro, quando avisou que a estatal majoraria os preços, o que de fato ocorreu poucos dias depois. Logo após, alertou novamente sobre uma nova majoração que, entretanto, não se materializou. No capítulo de agora, a empresa se apressou em divulgar um comunicado ao mercado desmentindo o presidente e sustentando que não existe, neste momento, nenhuma decisão tomada. Fica a dúvida se não havia mesmo uma posição definida ou houve apenas um recuo momentâneo, na tentativa de descaracterizar a informação privilegiada.
Os episódios, no entanto, alimentam a desconfiança de que Bolsonaro teria acesso a tratativas e decisões que deveriam pertencer apenas à cúpula da empresa e ao grupo que monitora e bate o martelo sobre preços. Tampouco poderia o presidente divulgá-las. Gera-se confusão e, afinal, parte das afirmações do presidente não se confirma. Mesmo assim, a própria governança da Petrobras fica arranhada e se reforça a percepção de que o mandatário segue nutrindo tentações de interferir na petroleira.
Ainda em outubro, Bolsonaro referiu estudos para a privatização da Petrobras, o que levou à forte valorização dos papéis da empresa. A iniciativa foi depois negada pelo governo. Em comum, os casos demonstram o pouco cuidado do presidente no trato dos assuntos relacionados à estatal, o incômodo com a política de preços que leva em consideração a paridade internacional e a contrariedade com a impossibilidade de uma ingerência mais efetiva e direta. Três destes episódios, incluindo o mais recente, levaram a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a abrir processo administrativo para apurar os casos.
Jair Bolsonaro utiliza a nítida estratégia de tentar parecer um homem comum, que come pastel na esquina, passeia de motocicleta e conversa com o povo. Não é o primeiro e não será o último governante a tentar estabelecer esse vínculo direto com os eleitores. Mas, mesmo que busque parecer um cidadão qualquer, Bolsonaro precisa entender que não é. Cidadãos comuns falam sobre o preço dos combustíveis e nada acontece. Quando o presidente se manifesta, há consequências que, até agora, não têm sido positivas. Melhor faria Bolsonaro se trabalhasse pela responsabilidade fiscal e pelo fim dos conflitos políticos, o que poderia influenciar a cotação do dólar e, por conseguinte, dos combustíveis. É notório que o aumento dos preços da gasolina e do diesel desagrada a Bolsonaro, por afetar a sua popularidade, a menos de um ano da eleição presidencial de 2022. Mesmo assim, deveria perceber que apenas causa mais tumulto quando leva a público informações sobre a empresa. Pouco importa se concretizem-se ou não.
Se foi possível obter melhores indicadores na área, com impacto na vida real, é preciso acreditar que se possa também melhorar o desempenho na educação e na saúde