São tocantes e contundentes os relatos apresentados ao longo dos últimos dias em reportagens e entrevistas sobre racismo publicadas em veículos do Grupo RBS. Os depoimentos, de anônimos e famosos, mostram as diferentes formas de manifestação de um preconceito culturalmente arraigado na sociedade brasileira e que, por isso, exige um contínuo esforço reflexivo para que esse mal possa ter um fim. Explícita ou velada, inconsciente ou proposital, oculta ou violenta, essa percepção deturpada da diversidade humana faz vítimas e causa sofrimento todos os dias. Mostra, sobretudo, o quanto a humanidade ainda tem de evoluir e se conscientizar até que cor da pele e etnia deixem definitivamente de ser motivo de tratamento diferente e razão para a desigualdade social.
O combate a essa discriminação abjeta não deve se limitar à população negra e necessita do engajamento de toda a sociedade
Neste sábado, 20 de novembro, celebra-se o Dia Nacional da Consciência Negra. Mais do que isso, marca os 50 anos desta data, nascida em Porto Alegre em homenagem a Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência à escravidão, morto exatamente neste dia, em 1695. Transcorreu ainda a Semana da Consciência Negra e novembro é o mês dedicado a discussões mais profundas sobre diversidade racial e as chagas do racismo. O simbolismo da data, sem dúvida, abre espaços e cria oportunidade para a ampliação do debate sobre o tema. Mas as transformações necessárias dependem do quanto todo este debate, que felizmente ganha corpo nos últimos anos, produza efeitos no cotidiano. Nas relações pessoais, na interação de órgãos de Estado com a população negra, no cumprimento da lei, em políticas públicas que busquem reduzir contrastes socioeconômicos e mesmo em ações afirmativas no âmbito empresarial. Mas podem começar por atitudes simples, como refletir sobre a utilização de termos de cunho discriminatório nos diálogos do dia a dia, algo muitas vezes entranhado pela reprodução naturalizada ao longo do tempo.
Racismo é crime. Quando ocorrer, deve ser devidamente punido. É uma maneira pedagógica de inibir casos do gênero. Mas o ideal, pela capacidade de gerar melhores resultados ao longo do tempo, é a via da educação e do esclarecimento, gerando um amadurecimento da coletividade que se reflita na conquista da paz social e de um desenvolvimento sem exclusões. A ignorância, afinal, é o grande fator gerador do racismo.
O combate a essa discriminação nefasta não deve se limitar à população negra. Necessita do engajamento de toda a sociedade para que solidifique a compreensão de que eventuais diferenças – sejam elas de gênero, nacionalidade, de cor da pele ou orientação sexual – não são justificativas para marginalização. Ao contrário, toda diversidade, especialmente no Brasil, pela riqueza multiétnica, deve ser celebrada e razão para promoção do diálogo e aceitação natural do outro como uma pessoa com os mesmos direitos e deveres, que carrega as mesmas angústias e tem as mesmas aspirações.
Os negros e pardos são maioria da população brasileira, mas são sub-representados nas instâncias de poder e nos postos decisórios mais importantes nos setores público e privado. Têm renda menor, maior índice de desemprego, sofrem mais com a violência e são majoritários na população carcerária.
É o resultado do chamado racismo estrutural, um conjunto de práticas, barreiras e processos incrustados na sociedade, mesmo às vezes pouco perceptíveis, que ao longo da História impedem a ascensão dos negros, perpetuando as desigualdades e o sentimento de subordinação. A tarefa à frente consiste em desmanchar todos esses bloqueios e criar oportunidades mais igualitárias que permitam o desenvolvimento pessoal e, tão importante, o fim dos olhares desconfiados. O fortalecimento da educação pública, sem dúvida, é o primeiro degrau dessa escada que tem de conduzir o país a dias de maior inclusão, empatia e humanismo.
Se foi possível obter melhores indicadores na área, com impacto na vida real, é preciso acreditar que se possa também melhorar o desempenho na educação e na saúde