O presidente Nicolás Maduro celebra em frente a uma multidão no palácio do governo venezuelano: veste uma jaqueta militar e chapéu de camponês, empunhando a espada de um herói da guerra civil do século XIX.
"A vitória nos pertencerá para sempre, a vitória é nossa!", exclama Maduro, ungido por Hugo Chávez como sucessor, e que amplia seu poder em meio a questionamentos sobre sua reeleição e acusações de violações de direitos humanos, enquanto tenta retratar a imagem de um homem comum, "um presidente dos trabalhadores".
Seu terceiro mandato (2025-2031) o projeta para 18 anos no poder, mais do que Chávez, que passou 14 anos no palácio presidencial (1999-2013), e perdendo apenas para o ditador Juan Vicente Gómez, que governou por 27 anos (1908-1935).
"Em 10 de janeiro e os anos que estão por vir serão anos de paz, serão anos de prosperidade, de soberania e independência plena", prometeu Maduro.
Alto, com um bigode espesso, este ex-motorista de ônibus e líder sindical de 62 anos explora os estereótipos de "homem do povo".
Evoca um passado de vida simples em longas noites de televisão com Cilia Flores, sua esposa e "primeira combatente", uma poderosa dirigente nos bastidores.
Formado em Cuba, Maduro foi parlamentar, ministro das Relações Exteriores e vice-presidente de Chávez.
Ele conseguiu eliminar a resistência do Partido Socialista da Venezuela (PSUV), que está no poder, e manteve a oposição sob controle com apoio militar.
- "Indestrutível" -
Classificado como "ditador" por seus opositores, Maduro foi designado por Chávez como seu herdeiro político em 9 de dezembro de 2012, antes de o então presidente viajar para Cuba para tratar um câncer, do qual morreu três meses depois.
Sua "opinião firme, plena como a lua cheia", era de que seu então vice-presidente deveria sucedê-lo.
Durante seu governo, manifestações maciças foram duramente reprimidas por militares e policiais em 2014, 2017 e 2019, com centenas de mortos.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) abriu uma investigação por crimes contra a humanidade.
Maduro também manobrou em meio a uma série de sanções internacionais após sua reeleição em 2018, boicotada pela oposição e não reconhecida por mais de 50 países.
Permaneceu no cargo apesar de uma crise econômica sem precedentes no país de 30 milhões de pessoas, com o PIB encolhendo 80% em uma década e quatro anos consecutivos de hiperinflação.
Um governo paralelo mal-sucedido da oposição, escândalos de corrupção, denúncias de ataques... e Maduro permanece na cadeira presidencial, "indestrutível", segundo o slogan do desenho animado de propaganda "Super Bigode", que mostra o mandatário na TV estatal como um super-herói que luta contra monstros e vilões enviados pelos Estados Unidos e pela oposição venezuelana.
- "Realpolitik" -
Ostenta o poder com apoio dos militares e das forças de segurança, em meio a alegações de prisões arbitrárias, julgamentos fraudulentos, tortura e censura.
Maduro não possui o carisma de Chávez, embora o imite com discursos longos nos quais mistura questões políticas duras e beligerantes com piadas e anedotas pessoais.
Contudo, além da retórica, ele soube fazer "realpolitik": cortou gastos públicos, eliminou tarifas para impulsionar as importações e acabar com o desabastecimento e permitiu o uso informal do dólar, que hoje reina em um país onde lojas e restaurantes de luxo reapareceram, embora apenas para uma pequena parcela da população.
O mandatário conseguiu negociar com Washington, apesar de seu discurso "anti-ianque".
Ele retomou parcialmente o comércio de petróleo com licenças para empresas como a Chevron e garantiu a libertação da prisão de dois sobrinhos de sua esposa condenados por tráfico de drogas nos Estados Unidos e do empresário Alex Saab, acusado de ser seu homem de frente e que está sendo julgado na Flórida por lavagem de dinheiro.
Maduro se define como "marxista", "cristão" e "bolivariano" e tem um relacionamento próximo com os evangélicos. "Cristo está conosco!", repete ele.
* AFP