É possível que vá a votação hoje no plenário da Câmara dos Deputados o projeto do chamado voto impresso auditável, já derrotado por acachapante maioria na comissão especial que tratava do tema, na semana passada.
É preciso dar um basta aos discursos e atos que tentam minar a confiança da população na urna eletrônica
Espera-se que os parlamentares, seguindo a percepção majoritária em Brasília, sepultem de vez a proposta de emenda à Constituição (PEC) agora discutida. Trata-se, sobretudo, da necessidade de encerrar um debate estéril, fora de hora e despropositado. Afinal, como teve de admitir o próprio presidente Jair Bolsonaro, não há uma prova sequer de fraude envolvendo as urnas eletrônicas, que há mais de duas décadas e meia expressam com fidelidade a vontade dos brasileiros na escolha de seus representantes.
Virado esse capítulo, seria conveniente que o presidente cessasse de vez os ataques frontais e velados ao exitoso e seguro sistema eleitoral do país. É preciso dar um basta aos discursos e atos que tentam minar a confiança da população na urna eletrônica, que, aliás, deu fim definitivo a um período em que não eram raros episódios de adulteração de resultados de pleitos pelo país. Eleições limpas, periódicas e livres são um dos pilares da jovem democracia brasileira e, por isso, precisam ser objeto de defesa inegociável e enfática das instituições e poderes, sem tergiversações. A tentativa
constante de tentar maculá-las com argumentos enganosos é uma postura que tem de ser repudiada de forma veemente pela sociedade.
Veio na hora precisa o manifesto divulgado na semana passada assinado por empresários, banqueiros, economistas, acadêmicos e lideranças religiosas. O texto se encerra ratificando a certeza de que o Brasil terá eleições no próximo ano e os seus resultados serão respeitados. Não será aceito qualquer retrocesso, mas é sintomático que, incrivelmente, em pleno 2021, seja preciso reafirmar preceitos democráticos. De qualquer forma, a força da Constituição prevalecerá e qualquer aventura estará fadada ao fracasso.
O debate sobre o reforço da segurança das urnas eletrônicas não precisa ser interditado e pode retornar quando for recobrada a estabilidade política e institucional. A questão é que, hoje, a discussão está contaminada, por estar baseada em radicalismo, polarização exacerbada e em informações falsas. Mas, agora, o assunto está longe de ser prioridade em uma nação repleta de problemas para resolver. Enquanto gastam-se tempo e energia preciosos com um tema extemporâneo, deixam-se de lado temas de grande urgência.
O país ainda tem uma pandemia para debelar. O desemprego segue elevado e a miséria e a fome crescem. A inflação corrói a renda da população. Reformas estruturantes, como a administrativa e a tributária, patinam. É premente recuperar a defasagem no aprendizado de milhões de crianças e jovens. Enfim, problemas reais à espera de respostas não faltam no Brasil. São pautas que devem estar muito à frente de discussões calcadas em premissas fantasiosas e que servem apenas para flertar com o golpismo e alimentar instintos antidemocráticos. O país tem de avançar, e não retroceder.