O país atravessa dias de tensão extremada e sobressaltos constantes com crises políticas e institucionais que apenas fomentam uma divisão ainda maior da população. Em meio a tanta inquietação e com a pandemia ainda à espreita, os dias da Olimpíada de Tóquio, que se encerra neste fim de semana, foram um saudável respiro. Por algumas horas, entre o final da noite e o início da manhã no Brasil, foi possível vibrar, torcer e sofrer com o desempenho dos atletas nacionais, como os judocas gaúchos Daniel Cargnin e Mayra Aguiar. Ambos conquistaram medalha de bronze em suas
O esporte afasta crianças e jovens de situações de risco, além de ensinar disciplina, responsabilidade, companheirismo, respeito a regras e aos adversários
categorias e Mayra entrou para a história do esporte brasileiro ao ser a primeira mulher a subir ao pódio três vezes em modalidades individuais, em diferentes edições dos jogos.
Daniel e Mayra ajudaram o país a ter o melhor desempenho em uma Olimpíada. Junto a outros atletas, sensibilizaram os brasileiros com suas trajetórias de superação, seja pela origem humilde ou pelo longo e doloroso processo de recuperação de lesões e cirurgias, sempre uma ameaça aterrorizante a desportistas de alta performance. Foi uma Olimpíada em que, sobretudo, se destacaram as mulheres. Mas que também ficará marcada, no caso do Brasil, pelo belo exemplo inclusive de quem venceu não apenas adversários em tatames, pistas e águas, mas a pobreza, as mazelas sociais e as limitações da pandemia para treinar.
Os aplausos e o reconhecimento, ressalte-se, devem ser endereçados não apenas aos que conquistaram ouro, prata e bronze, mas a todos os que deixaram até a última gota de suor para representar bem a nação, apesar de o resultado esperado não ter vindo. Mesmo que por breves momentos, conseguiram algo que infelizmente está cada vez mais raro: uniram os brasileiros em torno do verde-amarelo.
O resultado da Olimpíada de Tóquio mostra o potencial do Brasil em várias modalidades. Com tamanha qualidade de matéria-prima, deveria ser cada vez mais incentivada, inclusive mesclada a projetos sociais, a inclusão por meio do esporte. O objetivo final nem precisa ser um pódio olímpico. Atividades esportivas afastam crianças e jovens de situações de risco, além de ensinar disciplina, responsabilidade, companheirismo, respeito a regras e aos adversários, que não são inimigos. O aprendizado com os desafios, as vitórias e as derrotas ajuda a forjar o caráter. São lições para a vida, que valem tanto ou mais do que uma medalha.