A monstruosidade do crime praticado pela mãe que matou o próprio filho de sete anos em Imbé, no Litoral Norte, deve servir de motivação para ações urgentes por parte da sociedade e de instituições ligadas à proteção não apenas de crianças e adolescentes. Uma das principais frentes é o investimento em esforços de conscientização sobre a importância da denúncia de maus-tratos cometidos contra os mais vulneráveis.
Cabe à sociedade, e não só aos órgãos constituídos, proteger quem por alguma razão é mais frágil, onde quer que essas pessoas estejam
Há uma série de canais para isso, que começam com o Disque 100 (número para denúncias de violações de direitos humanos) e passam por conselhos tutelares, Ministério Público, Defensoria, Brigada Militar e Polícia Civil. Talvez a criação junto a uma campanha informativa de um serviço unificado e capilarizado possa dar maior robustez ao sistema, estimulando vizinhos, parentes e professores a relatarem casos em que crianças, idosos e pessoas com deficiência, entre outros, são submetidos reiteradamente a violência física ou psicológica.
Foi-se, felizmente, o tempo em que agressões praticadas no âmbito familiar eram consideradas assunto privado. Cabe à sociedade, e não só aos órgãos constituídos, proteger quem por alguma razão é mais frágil, onde quer que essas pessoas estejam.
No caso do menino de Imbé, a violência não eclodiu subitamente. Gravações e depoimentos apontam para uma covardia criminosa e patológica sistemática contra a criança que seria assassinada. Parentes e pessoas próximas sabiam o que ocorria e houve tentativas de retirar o menino do convívio tóxico que culminaria com sua morte. Falharam os sistemas de proteção, que têm o dever da celeridade quando vidas estão em risco e os sinais são evidentes.
Pedir Justiça à memória do menino de sete anos é a prova de que uma injustiça foi perpetrada. Neste caso, uma injustiça absolutamente evitável, que vinha se anunciando com gritos, ameaças e tortura. Mesmo no Rio Grande do Sul há episódios semelhantes de violência psicológica e física contra menores que acabaram em tragédia. Um dos episódios mais rumorosos foi o do menino Bernardo Uglione Boldrini, da cidade de Três Passos, assassinado aos 11 anos, em 2014, e outro, mais recente, de maio do ano passado, do garoto Rafael Mateus Winques, também de 11 anos, de Planalto. Ambos foram vítimas dos próprios familiares. Denunciar não é mais uma opção. É um dever nestes tempos em que tantos gritam por ética, mas preferem fazer de conta que não enxergam nem ouvem o que acontece na casa ao lado, ou até bem mais perto do que isso.