Após duas semanas de recesso, a CPI da Covid do Senado retoma hoje as sessões e o que se espera do colegiado é que aprofunde as investigações da forma mais técnica possível, sem resvalar para meras disputas eleitoreiras que mirem somente o desgaste de adversários políticos. Aguarda-se dos parlamentares membros da comissão uma postura sóbria, embora firme, nas apurações sobre a sequência de erros e omissões que colaboraram para o Brasil ser um dos países mais atingidos do mundo pela pandemia, com mais de 550 mil mortes até agora.
O fio condutor deve ser a busca por elucidar os acontecimentos, e não tentar atingir pessoalmente quem quer que seja, a qualquer preço
Apesar do ceticismo inicial, é preciso reconhecer que, após três meses de trabalho, as investigações ajudaram a jogar luz sobre uma série de fatos, possíveis irregularidades e equívocos, como o atraso na aquisição de vacinas, a insistência em tratamentos sem eficácia comprovada e negócios suspeitos. A pressão exercida pela CPI, por outro lado, também forçou o Ministério da Saúde a afastar-se de posturas dúbias exatamente sobre terapias que mesmo exaustivamente testadas não mostraram resultados em parte alguma do planeta e a direcionar os seus esforços e discursos para a aquisição de vacinas e o incentivo à população para se imunizar.
No meio do caminho, no entanto, surgiram indícios de possíveis atos de corrupção que, agora, parecem ser a prioridade dos membros da CPI identificados como independentes ou da oposição.
Todos os atos devem ser devidamente apurados, assim com as condutas esclarecidas, mas é dever dos senadores pautar suas atuações pela serenidade e sobriedade, sem pirotecnia ou revanchismos, até para que a comissão cumpra seu objetivo, com conclusões robustas, e não caia em descrédito. Apesar da natureza política da comissão, o fio condutor deve ser a busca por elucidar os acontecimentos, e não tentar atingir pessoalmente quem quer que seja, a qualquer preço. Mesmo que, em linhas gerais, não configurem nenhum mistério os motivos pelos quais, com o governo federal à frente, o país teve uma péssima gestão da pandemia. Ainda há muitas explicações a serem dadas e peças que precisam ser encaixadas.
A CPI já terá cumprido um papel importante na História recente do Brasil se, ao identificar falhas, desvios e apontar responsáveis, ajudar o país a não repetir os mesmos erros no futuro, fortalecendo a convicção de que áreas técnicas têm de ter como norte o conhecimento acumulado e a ciência. Especialmente quando a vida de milhares de pessoas está em jogo. Enquanto isso, a prioridade nacional permanece sendo o avanço da vacinação, processo que, somado aos cuidados individuais, que seguem essenciais, permitirá ao país ter mais esperanças de vencer a crise sanitária.