Mesmo que ainda possa ser um problema incipiente em comparação com o que ocorre em outras unidades da federação, requerem atenção de autoridades e instituições do Rio Grande do Sul as tentativas de facções e do crime organizado de ampliar suas áreas de influência por meio do ingresso de infiltrados na política partidária.
O crime organizado camuflado em estruturas públicas é um câncer que precisa ser extirpado rapidamente para que metástases sejam impedidas de se espalhar
O caso do vereador de Cachoeirinha preso na terça-feira em uma operação do Departamento de Homicídios da Polícia Civil contra um dos grupos mais violentos do Estado não é isolado. Apenas nos últimos anos há notícias de outros três episódios semelhantes de parlamentares municipais de cidades da Região Metropolitana, além de uma candidata, detidos por suspeitas de vínculos com quadrilhas. Outras investigações em curso chegam até a um prefeito e um vice de um município do norte do Estado, réus pelo possível envolvimento com uma facção que age no Vale do Sinos.
Não é novidade no Brasil a busca do crime organizado e de milícias por influenciar eleições e se infiltrar em instituições. O Rio de Janeiro é onde a situação é a mais emblemática e preocupante, embora longe de ser o único exemplo. Ao se imiscuírem em estruturas públicas, essas organizações tentam obter proteção, informações privilegiadas e até diversificação de seus crimes. Mesmo que no Rio Grande do Sul ainda seja algo localizado, é preciso que as autoridades fiquem atentas e vigilantes.
É essencial identificar precocemente tais indivíduos, monitorá-los e cortar esses tentáculos, com a ajuda da boa investigação e da inteligência.
Em meio à limitação do financiamento de campanhas eleitorais pela legislação, grupos que praticam homicídios, roubos, tráfico de drogas e controlam jogos de azar não têm qualquer preocupação em custear, com dinheiro de origem ilegal, candidatos que possam também zelar por seus interesses. Ao mesmo tempo, em suas regiões de influência, coagem cidadãos, a despeito do sufrágio secreto, a votar nos postulantes a cargos públicos apoiados por essas organizações. No caso que veio a público nesta semana em Cachoeirinha, há relatos inclusive de intimidações a adversários nas urnas, o que solapa a normalidade democrática das eleições.
Mas não são apenas as autoridades policiais ou o Ministério Público e a Justiça que deveriam agir para deter o processo de infiltração. Os partidos, da mesma forma, teriam de ter melhores filtros para dificultar que esses elementos a serviço do crime ingressem em seus quadros.
É preciso evitar, no nascedouro, qualquer risco de deterioração a níveis semelhantes aos do Rio, por exemplo. Mesmo, repita-se, que o panorama local não se compare ao grau de degeneração observado na cena fluminense. O crime organizado camuflado em estruturas públicas é um câncer que precisa ser extirpado rapidamente para que metástases perigosas sejam impedidas de se espalhar.