Se há algo a lamentar sobre a queda do agora ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, é o fato de ela não ter ocorrido antes. Nunca, na história contemporânea nacional, o país teve uma imagem externa tão desgastada. No centro desse processo de desagregação de valor, estão a catastrófica gestão da pandemia e a percepção de descaso no tratamento dos recursos naturais sob o abrigo da soberania nacional, mas que importam a todo o planeta. O mundo olha com perplexidade para o Brasil.
É preciso que seu sucessor assuma, urgentemente, discurso e práticas compatíveis com o papel de protagonismo do Brasil nas questões ambientais e climáticas
Ricardo Salles colecionou, ao longo da sua gestão de dois anos e meio, omissões e atitudes claramente desvinculadas do compromisso de sustentabilidade no longo prazo, com impactos nocivos aos interesses do país. Não se trata aqui da condenável ideologização exagerada do tema, mas de uma relação direta e mensurável entre o valor dos produtos e serviços nacionais e a exigência cada vez maior dos mercados, internos e externos, de cuidado com os ecossistemas naturais que dão sustentação à vida na Terra. Salles tornou-se uma espécie de antiministro, com iniciativas desastrosas como a que levou ao congelamento do Fundo Amazônia, financiado por Alemanha e Noruega, para custear ações de preservação, o desmonte de órgãos ambientais e a perseguição a servidores que tentavam cumprir o dever.
Como ponto para reflexão, cabe ponderar que, apesar de tudo, Salles não caiu pelo que fez e deixou de fazer com as florestas, seus habitantes e a exuberante fauna nacional, e sim por ter comprado brigas políticas e desavenças institucionais com a Polícia Federal (PF) e com o Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao deixar o poder, o ex-ministro, amparado pelo presidente Jair Bolsonaro, fez um movimento estratégico para evitar complicações com o cerco legal que se fecha ao seu redor, depois de tentar proteger, usando o cargo, bandidos que desmataram a Amazônia. O processo em que é investigado por supostamente facilitar a exportação de madeira ilegal agora vai para a primeira instância.
Mas a queda de Salles, por si só, significa pouco na perspectiva de um compromisso racional e sério com o meio ambiente. Afinal, a diretriz é ditada pelo presidente da República. É preciso que seu sucessor assuma, urgentemente, discurso e práticas compatíveis com o papel de protagonismo do Brasil nas questões ambientais e climáticas. Cuidar da natureza faz bem à economia. Gera inovação, novas tecnologias, empregos, renda e, principalmente, perspectiva de futuro para as gerações vindouras.