Os números conhecidos do primeiro trimestre relativos à economia mostram uma aparente contradição. De um lado, foi surpreendente o crescimento de 1,2% do PIB de janeiro a março, enquanto poucos meses atrás se cogitava inclusive o risco de uma nova recessão técnica, causada pelo recrudescimento da pandemia no início de 2021. De outro, o desemprego no país atingiu, no mesmo período, o patamar recorde de 14,7%. São quase 15 milhões de pessoas que procuram e não encontram colocação e, quase um quinto delas está nesta situação há mais de dois anos. Há ainda o grande contingente que, frustrado, até desistiu de procurar trabalho. Apenas no Rio Grande do Sul eram 114 mil desalentados no encerramento do primeiro trimestre, 60% acima do mesmo período do ano passado, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Brasil vive nos últimos anos uma profusão de frustrações em relação a uma recuperação consistente da atividade após a recessão de 2015 e 2016
Nota-se, portanto, um relevante descompasso entre o avanço da economia e a situação ainda dramática do mercado de trabalho, com consequências nefastas como o aumento da miséria, da fome e da concentração de renda no país. Esse desalinhamento pode ser explicado pelos setores que estão puxando o PIB. O avanço da atividade, neste começo de 2021, foi muito influenciado pelo boom das commodities. Ou seja, reflexo de demanda externa, enquanto o mercado interno segue claudicante. O Brasil ainda carece, sobretudo, de uma maior recuperação do setor de serviços, o que mais emprega e, normalmente, exige menor qualificação para preencher os postos de trabalho. Como ainda existem restrições pontuais de circulação, os trabalhadores informais também permanecem sem conseguir voltar a suas atividades em um nível semelhante ao pré-pandemia.
Uma recuperação mais robusta do emprego, portanto, ainda vai demorar. Mas tende a começar ocorrer assim que a economia doméstica recobrar forças, o que depende essencialmente de melhores perspectivas de vencer a crise sanitária. É um panorama ligado, essencialmente, ao avanço da vacinação contra a covid-19, o que permitirá uma retomada mais segura do comércio, que de alguma forma ainda se mantém em grande parte aberto, mas principalmente do setor de serviços, o de maior peso no PIB. São relevantes, portanto, as perspectivas de que a imunização tende a acelerar nos próximos meses. No caso do Rio Grande do Sul, é alvissareira a expectativa do Palácio Piratini de, até o final de setembro, vacinar todos os gaúchos adultos com ao menos a primeira dose.
O Brasil vive nos últimos anos uma profusão de frustrações em relação a uma recuperação consistente da atividade após a recessão de 2015 e 2016. As constantes crises políticas são um obstáculo recorrente. Agora, é o risco de racionamento de energia que assusta. Mas é necessário avançar em frentes que podem ser administradas, como as reformas que tramitam no Congresso, essenciais para injetar confiança nos agentes da economia. Não basta a atividade crescer a partir do apetite do Exterior. É preciso dinamizar o mercado doméstico para que o avanço do PIB possa ser percebido por todos os cidadãos, em forma de emprego e renda para os brasileiros que hoje vivem dias de incerteza.
O crescimento a ser perseguido é o que inclui toda a população, ajudando a diminuir a alta desigualdade nacional, uma das maiores do mundo. A defesa de uma repartição mais igualitária da geração de riqueza não é questão ideológica. Trata-se de uma fórmula lógica para incluir o maior número possível de pessoas no mercado de consumo e, assim, retroalimentar um círculo virtuoso. É uma lição já ensinada pelas nações com maior desenvolvimento econômico e social, escudada ainda em uma aposta firme na educação.