A construção civil é, sem dúvida, um dos setores mais importantes da economia. Tanto por sua participação relevante no PIB, incluindo a capacidade de irradiar reflexos na cadeia de insumos e serviços, quanto pelo fato de ser um segmento intensivo de mão de obra. Se vai bem, o que se espera é uma geração considerável de postos de trabalho. Por todas estas razões, é extremamente positivo que a atividade venha demonstrando sinais robustos de recuperação, que surgiram ainda a partir de meados do ano passado.
Um dos principais pontos de atenção é a Selic, que tende a ser moderadamente elevada, mas permanecerá em patamares baixos, se observado o histórico do juro básico da economia
Reportagem publicada ontem em Zero Hora mostra que o momento positivo observado no país se repete no Estado e na Capital. Em um período de taxas altas de desocupação, o setor acumula no Rio Grande do Sul saldo positivo de 2.597 postos com carteira assinada de janeiro a abril, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados de Desempregados (Caged). No ano passado, no mesmo intervalo de quatro meses, foram 3.399 vagas destruídas. Em Porto Alegre, de acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), a velocidade de vendas de abril foi a melhor do ano, e outros indicadores observados, vendas e lançamentos, estão em alta no primeiro quadrimestre, enquanto há redução de estoques.
Há, notadamente, duas explicações principais para este quadro. Por um lado, existe o efeito da taxa Selic em patamar historicamente baixo, o que vem estimulando investimentos que necessitem de um comprometimento de mais longo prazo por quem pretende adquirir um imóvel. Significa, de forma mais clara, um financiamento mais barato. De outro, observa-se desde o ano passado um grande número de reformas em residências. Com a necessidade de ficar mais em casa, aumentou a busca por melhorar as condições do lar. Peculiaridades da atividade e os protocolos de segurança adotados pelo setor para minimizar o risco de contaminação pela covid-19, da mesma forma, contribuem para que o segmento não tenha sofrido tantas interrupções, como comércio e serviços.
Há preocupações no horizonte, como a alta dos insumos, que impacta os custos da construção, com repasse inevitável aos preços dos imóveis. Mas, para o setor, um dos principais pontos de atenção é a taxa Selic, que tende a ser moderadamente elevada nos próximos meses. Mesmo assim, permanecerá em patamares baixos, se observado o histórico do juro básico da economia. Para que permaneça assim, ajudando também na confiança de quem tem planos de fazer um investimento considerável e que vai consumir boa parte da renda por muitos meses, é necessário que o governo federal mantenha a situação fiscal sob controle e avance em reformas estruturais que deem a firme percepção de uma trajetória saudável das contas do país.