Surgiram nos últimos dias inúmeros sinais preocupantes que apontam para o risco de uma terceira onda da pandemia no Rio Grande do Sul ou, ao menos, um novo recrudescimento da crise, a partir de patamares já altos. Junto a maior mobilidade, crescem os casos e internações, tanto em leitos clínicos quanto em UTIs, elevando a possibilidade de o Estado assistir a outro aumento na contabilidade funesta de vítimas fatais.
A esta altura da pandemia, deveria restar cristalino que, com divisões na sociedade, quem ganha é o vírus
Se o momento volta a ser crítico, com diversos alertas de especialistas e gestores da área da saúde, o que se espera dos administradores públicos das diferentes esferas são gestos de boa vontade para o diálogo e a busca de consensos e soluções que tratem de frear o ritmo de contágios e, ao fim, salvar vidas e evitar novas sequelas para a atividade econômica. Menos bate-boca e mais conversações construtivas é o que se exige dos homens e mulheres que, no dia a dia, são forçados a tomar decisões que podem influenciar os números da maior crise sanitária em um século para um lado ou outro em suas comunidades. Um exemplo de atrito que felizmente evoluiu para a procura por um entendimento envolveu o Piratini e prefeituras. Um desentendimento em torno do fechamento de escolas em cidades com agravamento da pandemia acabou por ter um melhor encaminhamento, com a formação de uma mesa de escuta e diálogo entre a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) para tratar do tema de forma civilizada.
É preciso ter sempre em primeira perspectiva que, mais do que disputa por poder ou convicções ideológicas, o que está em jogo são a vida e o bem-estar de grande parte da população. Hoje se sabe que, mesmo entre os que adoeceram e se curaram, é alta a taxa de pessoas com sequelas que levam a outros problemas de saúde. Divergências entre agentes públicos são naturais e fazem parte do ambiente democrático, mas existe um limite nesse enfrentamento. A simples troca de acusações e orientações desencontradas passadas à população, é preciso lembrar, contribuíram para o desastre da covid-19, que já matou mais de 450 mil brasileiros e 27 mil gaúchos. A lição foi dura.
Uma quantidade inaceitável de vidas já foi perdida pela descoordenação, compreensão equivocada dos fatos e lentidão em comprar vacinas, por exemplo. A esta altura da pandemia, deveria restar cristalino que, com divisões na sociedade, quem ganha é o vírus. Enquanto a imunização não atinge um percentual mínimo da população para conter a circulação do patógeno, os governos federal, estaduais e municipais deveriam compreender a obrigação moral que têm de buscar consensos e partir para uma comunicação minimamente coordenada nas medidas de prevenção. Apesar das limitações políticas, é o que também vem tentando fazer o próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Internamente, no Rio Grande do Sul, a ausência de grande desarmonia deve ser um trunfo e um ponto de partida para a busca por uma sintonia que poupe vidas. É algo que se torna ainda mais urgente e imprescindível diante dos reiterados avisos de que a covid-19 tende a reacelerar no território gaúcho.