Desde o início da pandemia, foram inúmeros os alertas de entidades ligadas à educação e de especialistas sobre os graves prejuízos à aprendizagem causados pelo fechamento das escolas. A Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a chamar a atenção para o risco de uma tragédia geracional, com consequências nefastas como o aumento da desigualdade. Estancar esse processo e dar início a um trabalho de recuperação do conteúdo e do tempo perdidos deve ser uma das tarefas prioritárias especialmente nas instituições públicas, onde a penetração da tecnologia não ocorre no mesmo nível da rede privada.
Qualquer política pública, para alcançar os objetivos propostos, tem de estar amparada necessariamente em informações concretas e confiáveis para que as intervenções sejam precisas
Vem em boa hora, portanto, a iniciativa do governo gaúcho de dar início a um período de aplicação de provas para estudantes do 2º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio para ter uma estimativa mais acurada do quanto os alunos deixaram de aprender e das principais deficiências nas disciplinas de matemática e língua portuguesa. Os resultados servirão como um diagnóstico e ponto de partida para elaboração de estratégias pedagógicas mais precisas, com o objetivo de recuperar o mais rápido possível as perdas detectadas pelo longo período de salas de aula vazias.
O programa chamado Avaliar é Tri parte de um pressuposto correto na busca pelos melhores resultados. Qualquer política pública, para alcançar os objetivos propostos, tem de estar amparada necessariamente em informações concretas e confiáveis para que as intervenções sejam precisas. Como a educação não é uma preocupação apenas dos alunos ou dos pais dos estudantes, mas a chave para o desenvolvimento de um Estado ou país, toda a sociedade deve acompanhar com interesse e atenção máximos a aplicação das provas, os resultados e as providências tomadas a partir das conclusões. Tão importante quanto obter respostas é saber o que fazer com elas. E isso vale, ressalte-se, para todas as áreas em que o Estado e o Brasil precisam se planejar. Agir no escuro, sem uma boa base de dados a nortear ações, é uma porta aberta para o desperdício e a ineficiência.
Antes mesmo da pandemia, educação já era motivo de grande inquietação no Rio Grande do Sul, pela percepção de que o Estado vinha perdendo espaço nos rankings nacionais para outras unidades da federação. A chegada da crise sanitária, que dura 15 meses, agravou esse quadro em todo o país. Em especial no ensino público, pelo menor acesso a dispositivos eletrônicos de qualidade e internet satisfatória para que os alunos acompanhassem de maneira adequada os conteúdos. Uma aprendizagem insuficiente significa, no futuro, maior risco de subemprego e menor renda, pela baixa produtividade, o que acaba contaminando toda a economia. Ao fim, é um freio para o desenvolvimento, o progresso e a diminuição da pobreza. A avaliação dos estudantes, desta forma, é o pilar que sustentará as próximas iniciativas voltadas a contornar uma deficiência estrutural, agravada em muito pela pandemia.