O Rio Grande do Sul foi pioneiro na mobilização para combater a febre aftosa no país, ainda na década de 1960. Por isso, tem razões de sobra para celebrar o reconhecimento internacional como território livre da doença sem vacinação, oficializado na quinta-feira pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O resultado agora colhido é fruto de décadas de esforço e dedicação de produtores, poder público, veterinários e empresas do setor, que se uniram em campanhas de conscientização e de imunização do rebanho, com vitórias mas também reveses, como os surtos de 2000 e 2001. Era quando o Estado estava prestes a ter o selo da OIE, mas teve de retomar a vacinação, após curto intervalo, devido ao retorno inesperado da enfermidade.
O resultado agora colhido é fruto de décadas de esforço e dedicação de produtores, poder público, veterinários e empresas do setor, que se uniram em campanhas de conscientização e de imunização do rebanho
O certo agora é que se descortinam novas oportunidades para o setor de proteína animal, principalmente para as carnes suína e bovina. Com este passaporte de qualidade, o Rio Grande do Sul passa a ter a possibilidade de abrir novos mercados, mais exigentes e que pagam mais. Uma variedade maior de produtos também poderá ser exportada, como carne com osso. É uma circunstância que tende a gerar mais renda no campo para os criadores e mesmo mais empregos e investimentos na cidade, pelos efeitos positivos nos frigoríficos e em toda a cadeia de fornecedores de insumos e serviços. Estima-se que, apenas na carne suína, exista o potencial de agregar até R$ 1,2 bilhão em negócios por ano.
Deixar de aplicar a vacina no rebanho, entretanto, também exige uma série de cuidados. Será preciso redobrar esforços na vigilância e rigor nos cuidados sanitários, tanto por parte dos criadores quanto do setor público, para minimizar qualquer risco de retrocesso. Após os episódios frustrantes de 2000 e 2001, o Estado avançou em pontos importantes. Melhorou a estrutura, investiu em digitalização, treinamento e travou-se um longo debate, à espera por dar passos seguros, como o momento certo para retirar a barreira da vacina. A situação epidemiológica tranquila nos países próximos do Rio Grande do Sul é outro fator positivo.
O novo status sanitário, até então limitado a Santa Catarina, agora também é ostentado por Rio Grande do Sul, Paraná, Acre, Rondônia e parte do Amazonas e de Mato Grosso. É, sem dúvida, um marco histórico para a pecuária do Brasil, um dos maiores produtores de proteína animal do planeta. É relevante lembrar que o Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa data de 1992. Ao longo desse período, atravessou diferentes governos como política de Estado e o resultado, mesmo com percalços pelo caminho, é a inegável certeza de que o país caminha para vencer uma das mais temidas doenças da pecuária mundial.