A indústria é o setor que, ao longo da última década, vem sofrendo mais. Primeiro com a lenta desaceleração da economia, ao mesmo tempo que era castigada por uma forte concorrência dos importados, e depois com a recessão e a letárgica recuperação da atividade no país. Não deixa de ser uma boa notícia, portanto, o fato de as fábricas serem as responsáveis pela metade do saldo positivo de 75,4 mil vagas formais de trabalho criadas no primeiro trimestre do ano no Rio Grande do Sul, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Há sinais que dão esperança de um novo ímpeto, a médio prazo, quando o país e o mundo vencerem a pandemia
Claro que há fatores sazonais a serem considerados, mas o mais importante é a sinalização de que o setor encontrou um piso de atividade e, agora, há uma tendência de reação – mesmo que lenta e às vezes errática – iniciada a partir do final do ano passado. Não se deve esperar para logo uma geração de postos de trabalho com carteira assinada no mesmo ritmo dos três primeiros meses do ano, avisa a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), mas as projeções seguem sendo de mais admissões do que demissões. Diante da dura realidade de altíssimo desemprego no país, é um sinal positivo, uma vez que o Estado tem um dos principais polos manufatureiros do Brasil e o segmento costuma ter salários em média mais altos, além de um grau maior de formalidade.
A mais recente sondagem da Fiergs confirma o viés para cima. O índice de produção de março – mês com o maior número de restrições a atividades no Estado – ficou em 56,8 pontos, acima de fevereiro e da média histórica do período, de 52,8 pontos. A utilização da capacidade instalada, outro indicador importante, chegou a 76%, enquanto a média para o terceiro mês do ano é de 70,7%. Bons resultados, é preciso ressaltar, a despeito do período recheado de adversidades.
Mesmo assim, dificuldades não faltam. Uma delas é o aumento do custo das matérias-primas, decorrente da desorganização da cadeia global de fornecedores, consequência da pandemia, mas também da disparada dos preços das matérias-primas. Há outros entraves, como a própria situação de dificuldade da Argentina, principal cliente das fábricas gaúchas. A recuperação também não é igual para todos os subsetores.
Mas há sinais que dão esperança de um novo ímpeto, a médio prazo, quando o país e o mundo vencerem a pandemia. Quanto ao mercado interno, é essencial avançar na vacinação, para que os demais segmentos, como comércio e serviços, possam voltar a algo mais próximo do normal em termos de nível de atividade, disseminando benefícios e aumentando a renda da população. Significará maior demanda para as indústrias. Ao mesmo tempo, espera-se que o Congresso e o governo federal encontrem consensos para avançar com a reforma tributária. São passos essenciais para que este novo impulso possa ser sustentável e vigoroso, contribuindo para o crescimento da economia do Rio Grande do Sul.