São exemplares as iniciativas de várias prefeituras do Rio Grande do Sul, nas últimas semanas, de organizar postos de recebimento de doações de alimentos nos locais de vacinação contra a covid-19, especialmente os drive-thrus. Santa Maria, Torres, Porto Alegre, Canoas, Pelotas e Caxias do Sul são alguns dos municípios que aderiram à ideia, mas seguramente o número deve ser bem superior no Estado. Espera-se que ações semelhantes ganhem cada vez mais novos engajamentos, tanto do poder público quanto da população. Há cidades em que também se está aproveitando a onda de solidariedade para iniciar a arrecadação de roupas, visando de certa forma antecipar as campanhas para arrecadação de agasalhos, ainda antes da chegada das temperaturas mais baixas que normalmente são registradas já no outono.
A compreensão sobre a crise social que acompanha a pandemia tem de outra vez fazer aflorar o ímpeto humanitário para impedir o avanço da fome
A pandemia leva à necessidade de medidas que diminuam a circulação de pessoas nos centros urbanos, especialmente em momentos como o atual, de grande número de novos casos do novo coronavírus. É um esforço imprescindível para diminuir a pressão sobre o sistema de saúde e a quantidade inaceitável de vítimas fatais registrada tanto no Estado quanto no país. Essas ações, no entanto, afetam uma série de atividades econômicas, com reflexo no desemprego e mesmo na dificuldade dos informais de conseguirem trabalho e alguma renda que permita levar comida para casa.
Nos primeiros meses da pandemia, no ano passado, formou-se uma grande corrente de auxílio para os mais necessitados e entidades que amparam vulneráveis. Com o passar do tempo, no entanto, a intensidade da mobilização arrefeceu. Mas o recrudescimento da pandemia, o mercado de trabalho ainda fraco, o fim do auxílio emergencial e mesmo a inflação alta tornaram o quadro outra vez dramático para milhões de brasileiros que não conseguem encontrar colocação ou obter rendimentos que permitam garantir segurança alimentar para a família. É verdade que o auxílio emergencial está agora de volta, mas será de valor bem inferior à primeira rodada e abrangerá uma quantidade de pessoas também menor na comparação com a do ano passado.
A compreensão sobre a crise social que acompanha a pandemia, portanto, tem de outra vez fazer aflorar o ímpeto humanitário de cidadãos e até empresas, para impedir o avanço da fome. Famílias que dispõem de um automóvel para se deslocarem até um drive-thru no momento da vacinação, por exemplo, certamente reúnem condições financeiras para alcançar alguma ajuda aos mais necessitados. Aguarda-se que mais prefeituras se organizem para receber e distribuir doações e informem os cidadãos sobre como colaborar. Os gaúchos, mais uma vez, saberão ser solidários e retribuir a dádiva da imunização com uma boa ação. Este deve ser o sentimento contagiante daqui para a frente.