A quantidade de casos nas alturas, os hospitais abarrotados e o número de mortes pela covid-19 batendo recordes quase todos os dias fazem com que seja equivocada e infeliz a decisão de qualquer prefeitura de interromper a vacinação durante o feriadão de Páscoa. A chegada nesta sexta-feira do maior lote de imunizantes já enviado ao Rio Grande do Sul é outra razão para que não se paralise o trabalho. Pelo contrário, o momento exige que se acelere o processo.
O RS atravessa o estágio mais agudo da crise sanitária e cada dia perdido significa o risco de mais mortes que poderiam ser evitadas
Cabe aos municípios organizar a vacinação. As autoridades locais é que recebem as doses, estabelecem calendários, a ordem dos grupos, os locais e disponibilizam equipes para a tarefa. Respeitam-se a autonomia e as especificidades. Compreendem-se a estafa e a sobrecarga dos servidores da saúde, que há um ano mostram-se incansáveis em suas funções de atendimento à população no combate ao novo coronavírus.
Mas o Rio Grande do Sul atravessa o estágio mais agudo da crise sanitária e cada dia perdido de imunização significa, no fim, o risco de mais mortes que poderiam ser evitadas. Não há tempo a perder, ainda mais se há doses disponíveis e a circulação do vírus não tira folga. Mesmo prefeituras que acreditam estar até adiantadas não devem esperar a próxima semana para retomar a vacinação.
A interrupção foi anunciada, por exemplo, por alguns municípios da Região Metropolitana. Porto Alegre, ao contrário, seguirá imunizando hoje e amanhã. A nova remessa de vacinas está prevista para chegar no início da manhã de hoje à Capital. Salvo algum imprevisto, há tempo hábil para distribuir as 645 mil doses tanto para os municípios mais próximos, por transporte terrestre, quanto para os mais distantes, por aeronaves. Com o planejamento pronto para se iniciarem as partidas ainda pela manhã para todas as coordenadorias regionais de Saúde (CRS), seria possível que os braços de milhares de gaúchos recebessem as doses ainda à tarde e ao longo do sábado e chegassem ao domingo de Páscoa, data sinônimo de ressurreição, com esperanças renovadas. É um esforço que precisa ter correspondência na ponta.
Assim como os governadores, os gestores municipais brasileiros têm demonstrado grande aflição pela escassez de vacinas devido à falta de planejamento do governo federal para fechar contratos com laboratórios. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu que, em abril, o país contará com apenas 25,5 milhões de doses, metade do volume estimado há poucas semanas. O tema foi pauta, ontem, de reunião virtual do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, com representantes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP). Na quarta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira, questionou o ritmo lento da vacinação no país pela diferença entre o número de doses distribuídas e o de aplicadas. Sabe-se que parte dos lotes tem de ser reservada para a segunda aplicação, existem locais ermos e o sistema de informações não é centralizado. Mesmo assim, a cobrança foi feita aos prefeitos. Se a maior aflição de cada gaúcho hoje é que chegue a sua vez na fila e há fármacos disponíveis, espera-se que os gestores locais que optaram pela interrupção reflitam e voltem atrás. Há tempo.