A segunda-feira foi um dia de sobressaltos em Brasília. De supetão e sem uma lógica de implementação clara, o presidente Jair Bolsonaro promoveu seis mudanças no primeiro escalão de seu governo. No mundo ideal, trocas de ministros e de assessores graduados deveriam buscar eficiência na prestação de serviços à população e, secundariamente, a garantia de apoio político que assegure a sustentabilidade da gestão. Não é essa, ao que tudo indica, a inspiração de Bolsonaro.
Independentemente da legitimidade dos temores, os movimentos de ontem comprovam que o presidente passou enxergar a luz amarela assumindo tons de vermelho
Os recentes desgastes gerados pelo caos na saúde, pela erosão da imagem do Brasil no Exterior, com reflexos nefastos na economia, pelo puxão de orelhas do Congresso e pela carta assinada por empresários e economistas com críticas ao governo indicam uma queda de apoio, confirmada pelas pesquisas de opinião. A reação de Bolsonaro foi embaralhar as peças do seu tabuleiro em busca do oxigênio que falta hoje nos hospitais brasileiros.
As duas mudanças mais ruidosas foram a dos ministros das Relações Exteriores e da Defesa. A demissão do chanceler Ernesto Araújo é resultado da pressão direta do centrão e da cúpula do Congresso, turbinada pela condução desastrosa da diplomacia brasileira. Pontualmente, a queda de Araújo é positiva para o Brasil, mas seria ingenuidade esperar que signifique uma guinada automática do Itamaraty. Chega ao cargo Carlos Alberto Franco França, diplomata de pouca expressão que estava na assessoria especial da Presidência. Resta esperar que ele consiga, no novo cargo, se relacionar de forma altiva e harmoniosa com a comunidade internacional.
Já a saída do general da reserva Fernando Azevedo e Silva, conforme análises costuradas em Brasília, teria sido motivada pela ânsia de um maior alinhamento das Forças Armadas com o Planalto, o que seria, além de uma agressão à Constituição, uma afronta ao papel institucional dos militares, que vem sendo exercido de forma correta desde a redemocratização. Não é de hoje que o perfil de Bolsonaro revela suscetibilidade a teorias conspiratórias e, especialmente, à maior das assombrações, o impeachment. Independentemente da legitimidade dos temores, os movimentos de ontem comprovam que o presidente passou enxergar a luz amarela assumindo tons de vermelho.
Até o fechamento desta edição, os brasileiros, entre atônitos e surpresos, tentavam decifrar a trama por trás dos movimentos visíveis na capital federal. Independentemente dos desdobramentos gerados pelos estrondosos tremores de terra de ontem em Brasília, o país acorda hoje com problemas reais a resolver. Menos barulho e mais resultados, é disso que o país precisa. Já.