São enormes as repercussões, dentro e fora do país, da devastadora reportagem sobre o Brasil publicada pelo The New York Times (NYT) no final de semana. No texto, os jornalistas Ernesto Londoño e Letícia Casado apresentam Porto Alegre, "uma próspera cidade no sul do Brasil", como o "coração de um impressionante colapso no sistema de saúde". UTIs lotadas, disparada na procura por caixões, negacionismo, hospitais sob máximo estresse e famílias destroçadas são alguns dos aspectos retratados.
Os enviados do The New York Times têm razão, especialmente no adjetivo escolhido para caracterizar a capital do Rio Grande do Sul
Os enviados do NYT têm razão especialmente no adjetivo escolhido para caracterizar a capital do Rio Grande do Sul – próspera. Cabe agora à sociedade gaúcha reafirmar essa verdade de forma racional, serena e efetiva. Não nos faltam bons exemplos e atributos positivos. O Rio Grande do Sul e Porto Alegre têm um dos melhores sistemas de saúde da América do Sul, logística de ponta, universidades de reconhecida qualidade, ONGs atuando nos mais variados campos, empresas pujantes de todos os tamanhos, um setor primário cada vez mais sustentável e produtivo, instituições esportivas com trajetória de sucesso, clusters de inovação e de tecnologia, além de uma pulsante pluralidade étnica e cultural, marcada pela convivência harmônica e integrada. Por isso, não se justifica um eventual abatimento diante da referida reportagem. O desafio dos gaúchos, nesse momento de dor e preocupação, é reverter o quadro, com respeito, empatia e altivez. Para isso, é imprescindível que haja união.
Mais do que um desejo difuso, a convergência se impõe como uma meta pragmática e plenamente exequível. São inúmeros casos de movimentos espontâneos da sociedade civil, das mais distintas origens e matizes, da Central Única das Favelas (Cufa) a entidades empresariais, têm arregaçado as mangas por uma motivação muito mais relevante e prioritária do que a disputa imediata e mesquinha pelo poder. Esses exemplos deveriam ser seguidos, urgentemente, pelos gestores da crise nos níveis federal, estadual e municipal, respeitadas as hierarquias e competências balizadas pela lei e pelas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
Sem dúvida, a falta de sintonia na esfera pública é um dos fatores que nos levaram ao caos, agora retratado também pelo maior jornal dos Estados Unidos. Apesar da injustificável desagregação protagonizada por setores políticos, é necessário ressaltar que cada cidadão é responsável pelo cuidado com a vida, o que vem sendo praticado em inúmeras atitudes e iniciativas, às vezes, infelizmente, nem tão visíveis. De fato, é preciso que esse espírito construtivo se espalhe mais e mais.
As condições para reagir estão ao nosso alcance. Se conseguirmos olhar juntos para o futuro, em breve, poderemos inspirar uma outra pauta: "Como uma próspera cidade no sul do Brasil saiu do caos para a recuperação humana e econômica". Contamos com amplas condições para começar a construir, já, essa nova manchete. O Rio Grande do Sul, com certeza, tem muito mais para mostrar ao mundo.