Ainda há tempo para o governo brasileiro rever seu posicionamento e dar ao mundo, nos próximos dias, a boa notícia de que pretende ser mais ambicioso em suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa até 2030, no âmbito do Acordo de Paris. Essa é hoje não apenas uma preocupação de ambientalistas, mas um tema considerado de máxima importância inclusive por grandes grupos empresariais brasileiros, que temem por reflexos negativos para o país, na forma de diminuição de investimentos estrangeiros e dificuldade para negócios. Esse temor, ao lado das inquietações de que o avanço do desflorestamento no território nacional contribua de forma decisiva para uma mudança rápida do clima global, foi o tema de uma carta enviada na quinta-feira ao Planalto pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Trata-se de uma organização que reúne 280 empresas, entidades do agronegócio, instituições financeiras e da academia que, em sua atuação, tem se norteado pela premissa de que a preservação ambiental é benéfica para o desenvolvimento do país. A proteção da natureza, ao fim, também significa um capitalismo mais vigoroso e saudável.
Coalizão lembra que o Brasil é peça-chave nos esforços para desacelerar o aumento médio da temperatura nas próximas décadas
Esta nova pressão, agora, se deve à aproximação da Cúpula do Clima, organizada pelo governo norte-americano e que se realizará de forma virtual nos próximos dias 22 e 23 deste mês. Sabe-se que a questão climática será central na diplomacia da Casa Branca sob Joe Biden, que convocou a reunião e convidou 40 líderes mundiais, entre eles o presidente Jair Bolsonaro. Será uma espécie de preparação para o encontro sobre o tema promovido pela ONU, em novembro, na Escócia.
É, portanto, a oportunidade de o Brasil mostrar novos e mais consistentes compromissos com a redução do desmatamento. Seria conveniente que o Planalto compreendesse a preocupação global com a situação da Amazônia, se despisse de posições baseadas em teorias conspiratórias e adotasse uma postura à altura das expectativas depositadas sobre o país. Foi grande a decepção, no final do ano passado, quando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou que o Brasil manteria a sua meta de reduzir a emissão de gases de efeito estufa em até 43% até 2030, enquanto a expectativa era de que informasse objetivos maiores. Salles ainda condicionou a possibilidade de alcançar essa redução à ajuda financeira de cerca de US$ 1 bilhão de outras nações. Este, é preciso recordar, é o mesmo Salles que criou uma polêmica inútil com os governos da Alemanha e da Noruega. O episódio culminou com o fim do Fundo da Amazônia, que ao longo de uma década recebeu cerca de R$ 3,4 bilhões para o combate de crimes ambientais.
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura lembra que o Brasil é peça-chave nos esforços para desacelerar o aumento médio da temperatura nas próximas décadas. E 40% das emissões brasileiras, observa a entidade, se originam de desmatamento ilegal. Para isso, é basilar trabalhar para reduzir as taxas de desmatamento, algo que o país conseguiu entre 2004 e 2012. É preciso lembrar que, além da imagem internacional, está em jogo a própria higidez da agricultura brasileira, que depende da floresta amazônica para um regime regular de chuvas.
Seria de enorme benefício para o país, então, se o governo aceitasse ser mais ousado e se comprometesse com novas metas, seguindo os conselhos da coalizão de fortalecer organismos como o Ibama, finalizar a implantação do Cadastro Ambiental Rural e negar registros de áreas desmatadas de maneira irregular, além de trabalhar para a implementação da concessão de financiamento por critérios socioambientais, entre outros pontos listados. Mas é imprescindível mudar o discurso e os sinais enviados aos criminosos do ambiente, que hoje parecem agir com a certeza da impunidade.