É seguro afirmar que, nove meses depois de assumir o cargo, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, permanece desconhecido da esmagadora maioria dos brasileiros. Tal constatação parte da observação de que, até aqui, é absolutamente opaca a atuação de Ribeiro e mesmo da própria pasta, apesar de o ensino ser uma das áreas mais afetadas pela pandemia e existir, em todo o país, clamor por uma coordenação nacional que permita, com alguma segurança, a volta das aulas presenciais. Pelo contrário, não se conhecem detalhadamente as diretrizes do MEC, suas ações neste sentido e o que pensa o ministro, a não ser por eventuais declarações superficiais.
A herança de um ano com salas de aula em regra vazias será o crescimento da desigualdade social e o aumento do abismo da rede pública ante as escolas privadas
Por enquanto, o grande ganho com a chegada de Ribeiro foi somente a substituição do estridente Abraham Weintraub, que mais se notabilizava por criar discussões estéreis e atacar adversários em redes sociais do que por se dedicar à formulação de uma política consistente de ensino que pudesse resgatar as crianças e adolescentes do Brasil do imenso atraso na aprendizagem. Sem dúvida, ter alguém que ao menos não cria gratuitamente confusões é até positivo levando-se em conta o contexto do governo Jair Bolsonaro, mas é muito pouco para as necessidades dos estudantes do Brasil.
Ribeiro deveria, neste momento, ser o principal rosto e a grande voz, por exemplo, a defender a prioridade da vacinação dos professores para permitir o retorno do ensino presencial, com todas as limitações e cuidados necessários. Faria bem se fosse um incansável batalhador para dar melhores condições de acesso a internet a alunos carentes e professores. Nada disso se nota, a não ser de modo esporádico e tímido. Mas o próprio governo Bolsonaro, infelizmente, parece dar pouca atenção para a educação. Em mea-
dos do mês passado, o presidente vetou integralmente projeto de lei da Câmara dos Deputados que destinaria R$ 3,5 bilhões para garantir conexão a cerca de 18 milhões de estudantes e 1,5 milhão de docentes de escolas públicas. Justificou a decisão com responsabilidade fiscal, o que até poderia ser razoável não fossem as demais gastanças nada prioritárias, como os quase R$ 50 bilhões em emendas parlamentares aprovados no orçamento de 2021, para agradar ao centrão.
A herança de um ano com salas de aula em regra vazias será o crescimento da desigualdade social e o aumento do abismo da rede pública ante as escolas privadas. No Brasil, este fosso tende a ser ainda maior. Estima-se que, apenas no ano passado, cerca de 4 milhões de estudantes abandonaram a escola no país. Outros 4 milhões de crianças e adolescentes não conseguiram acessar o conteúdo por não terem internet e dispositivos eletrônicos apropriados. Diante dessa tragédia geracional, deveria caber ao MEC e ao ministro a liderança de um esforço nacional para assegurar meios adequados para o ensino a distância, a adaptação de currículos para as modalidades remota e híbrida e a preparação das escolas para a reabertura de seus portões, assim que for possível, além de apoiar Estados e municípios na busca por recuperar os prejuízos à aprendizagem. Hoje, no entanto, mais parece que pandemia é um problema distante para o Ministério da Educação. Não é mais possível negligenciar e se omitir.