A posse do 46º presidente dos Estados Unidos, marcada para esta quarta-feira, reforçará o isolamento do Brasil no mapa da geopolítica global. O democrata Joe Biden pouco falou sobre a América do Sul durante a campanha que culminou com sua vitória sobre Donald Trump. Quando o fez, foi para criticar a postura do governo brasileiro diante do desmatamento e das queimadas na Amazônia. Biden foi além: prometeu sanções econômicas, caso Jair Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não mostrem sinais claros de mudança na política que levou a recordes de degradação ambiental em ecossistemas dos quais depende toda a humanidade.
Os interesses comerciais das centenas de empresas americanas com presença no Brasil não recomendam movimentos bruscos
Engana-se, porém, quem espera alguma medida mais abrupta de ruptura. Mesmo com o tensionamento das relações entre Brasília e Washington, os interesses comerciais das centenas de empresas americanas com presença no Brasil não recomendam movimentos bruscos.
A troca no inquilino da Casa Branca traz consigo, porém, uma mudança significativa de linguagem e de postura nas relações domésticas e internacionais. As bravatas darão lugar a um tom mais moderado, mas nem por isso titubeante nas questões que dizem respeito ao futuro do planeta. Energia limpa e sustentabilidade são termos que irão, imediatamente, preencher o espaço até agora ocupado pelos arroubos nacionalistas e pela negação dos efeitos nefastos da poluição sobre a vida humana. Trata-se, sem dúvida, de uma mudança positiva, especialmente se o Brasil souber tirar proveito da sua privilegiada condição de protagonista natural desse debate, pela extensão e relevância do seu patrimônio ambiental. Mas, para isso, o governo Bolsonaro terá de contrariar a sua essência profunda, amparada, até agora, no alinhamento incondicional e tantas vezes subserviente aos descalabros da era Trump. Na tentativa de reeleição, o republicano menosprezou a pandemia e relativizou o racismo. Também por isso, acabou pagando o justo preço imposto pelas urnas.
Aos 78 anos, Joe Biden assume a liderança da maior democracia do planeta no momento em que o radicalismo provoca fissuras em um sistema até então apontado como exemplo de sociedade livre e plural. Todos os olhos do mundo estarão voltados para Washington e seu gigantesco e inédito aparato de segurança, montado para a posse de Biden e de sua vice, Kamala Harris. Que as palavras pronunciadas nos discursos festivos desta quarta-feira se transformem em medidas concretas para tornar o mundo um lugar mais seguro, limpo e justo.